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17 julho 2008




Periodonto de Sustentação

Ligamento Periodontal
O periodonto de sustentação é o aparelho de fixação dos dentes e consiste de: ligamento periodontal, cemento e osso alveolar.
1 - Desenvolvimento
O ligamento periodontal forma-se após o início da rizogênese. Seu desenvolvimento se dá a partir das células do folículo ou saco dentário, que inicialmente proliferam resultando num aumento do número de células, que logo aumentam de tamanho e rapidamente assumem uma função fibrinogênica, depositando fibrilas colágenas do ligamento periodontal.
2 - Estrutura
O ligamento periodontal apresenta células, substância extracelular, constituída de fibras e substância fundamental amorfa, vasos sangüíneos, linfáticos e nervos.
Os elementos essenciais do ligamento são os feixes de fibras colágenas que se inserem no cemento e osso alveolar e a substância fundamental amorfa, que compreende macro-moléculas de glicoproteínas, glicolipídeos, glicosaminoglicanas e água (70%).
3 - Células
As células presentes em um tecido conjuntivo: células mesenquimais indiferenciadas, macrófagos, plasmócitos, mastócitos, as células de síntese: fibroblastos, cementoblastos e osteoblastos, mais os osteoclastos e os odontoclastos.
Fibroblasto
Principal célula do ligamento periodontal devido ao alto índice de renovação do mesmo; seus constituintes estão constantemente sendo sintetizados, removidos e substituídos. No ligamento periodontal a remodelação do colágeno é feita pelos fibroblastos, com capacidade de síntese e degradação.
Células Epiteliais
São as remanescentes da bainha epitelial de Hertwig. Elas aparecem no ligamento como cordões entrelaçados ou em pequenos agrupamentos junto a superfície do cemento. São os restos epiteliais de Malassez, que eventualmente podem ser estimuladas induzindo a formação de cistos.
4 - Fibras
A grande maioria das fibrilas colágenas estão arranjadas em feixes definidos e distintos de fibras no ligamento periodontal. Este arranjo é que dá condições às fibras de se adaptarem as contínuas forças nelas aplicadas.
Os vários grupos de feixes de fibras colágenas são denominados de Grupamentos de Black e dividem-se em:
· Grupamentos ou ligamentos alveolares
· Grupamentos ou ligamentos gengivais (periodonto de proteção)
Os grupamentos ou ligamentos alveolares compreendem cinco grupos de feixes principais de fibras colágenas:
1. Grupo da crista alveolar - unido ao cemento logo abaixo da junção amelocementária, dirige-se apicalmente e para fora, para inserir-se na crista alveolar.
2. Grupo horizontal - situado apicalmente ao grupo da crista alveolar, dirige-se em ângulo reto em relação ao longo eixo da raiz, desde o cemento até o osso alveolar.
3. Grupo oblíquo - são os feixes mais numerosos, têm direção oblíqua no sentido cervical do cemento para o osso alveolar.
4. Grupo apical - irradiando-se desde o cemento em torno do ápice da raiz, para o osso.
5. Grupo interradicular - encontrado nos dentes multiradiculares, dirigem-se da crista do septo interradicular para a bifurcação dos dentes multirradiculados.
As extremidades de todos os feixes principais de fibras colágenas do ligamento periodontal estão embutidas no cemento e no osso alveolar. Esta porção embutida de fibras é denominada de Fibras de Sharpey.
No cemento acelular as fibras de Sharpey estão completamente mineralizadas, enquanto que no cemento celular e no osso estão parcialmente mineralizadas na superfície.
Fibras Oxitalânicas
Consideradas como uma variante das fibras elásticas, são encontradas obliquamente entre as paredes dos vasos sangüíneos no ligamento periodontal e cemento. Sua função é desconhecida mas tem sido sugerida que tomam parte no suporte dos vasos sangüíneos do ligamento.
5 - Vasos sangüíneos
O principal suprimento sangüíneo do ligamento vem das artérias dentárias que emitem três ramos:
· ramos no ligamento periodontal, provenientes dos vasos apicais que suprem a polpa dentária.
· ramos dos vasos intra-alveolares que atravessam a parede alveolar e se dirigem para o periodonto.
· ramos das artérias gengivais - estes entram no ligamento periodontal a partir da direção coronária.
Os capilares formam uma rica rede no ligamento e os vasos linfáticos seguem o trajeto dos vasos sangüíneos, proporcionando a drenagem linfática.
6 - Nervos
O suprimento nervoso do ligamento periodontal vem tanto do nervo dentário superior quanto do inferior que com seus ramos formam um rico plexo, onde há terminações nervosas receptoras de dor e também de estímulos proprioceptivos. As terminações proprioceptivas permitem a localização exata do grau e a direção da pressão, pois regulam a inibição da atividade muscular, protegem o dente da sobrecarga repentina.
7 - Funções
O ligamento periodontal tem várias funções como: suporte, sensorial, nutritiva e homeostática.
Suporte - toda a pressão exercida sobre a coroa do dente é transformada pelo ligamento periodontal em tração sobre o osso e cemento.
Sensorial - o ligamento periodontal através do suprimento nervoso fornece um mecanismo proprioceptor muito eficiente, permitindo ao organismo detectar as aplicações das mais delicadas forças aos dentes e deslocamentos muito leves dos mesmos.
Nutritiva - os vasos sangüíneos fornecem material nutritivo as células do ligamento, encarregando-se também da remoção dos catabolitos.
Protetora - o ligamento periodontal limita os movimentos mastigatórios amortecendo os traumas da mastigação.
Homeostática - as células do ligamento tem a capacidade de reabsorver e sintetizar a substância extracelular do tecido conjuntivo do ligamento, do osso alveolar e do cemento.

Processo Alveolar

Processo alveolar é a parte da maxila e da mandíbula que forma e sustenta os alvéolos dos dentes. Não há limite entre o corpo dos maxilares e o processo alveolar.
Os alvéolos somente estão presentes em indivíduos com dentes, pois a condição de sua existência é a presença da raiz dentária.
Do processo alveolar fazem parte: osso alveolar propriamente dito ou lâmina dura ou osso fasciculado e osso de suporte ou sustentação.
Osso alveolar ou lâmina dura é uma camada delgada de osso que circunda a raiz ou raízes do dente e fornece inserção às fibras colágenas do ligamento periodontal.
1 - Estrutura
É constituído por lamelas ósseas paralelas entre si e à superfície radicular. É o único lugar do nosso organismo que apresenta osso primário. Nas radiografias esse osso (primário) aparece radiopaco, por isso é chamado de lâmina dura. Essa radiopacidade é devido a disposição desordenada das fibras colágenas nas lamelas, concentração de cálcio e situação das estruturas no trajeto dos raios X.
Devido a inserção das fibras de Sharpey no osso alveolar, ele recebe também o nome de fasciculado.
Histologia da lâmina dura - É um tipo de osso lamelar compacto constituído de: células, matriz mineralizada, fibras de Sharpey, vasos sangüíneos, linfáticos e nervos.


2 - Osteogênese da Lâmina Dura
Os osteoblastos são formados pela citodiferenciação das células mesenquimais do saco dentário. A osteogênese ocorre em duas fases: formação da matriz e mineralização da matriz, como em qualquer tecido ósseo do organismo.
a) Formação da matriz - os osteoblastos elaboram a substância fibrosa e amorfa.
Inicialmente é do tipo pré-colágena, ao sofrer amadurecimento se transforma em colágena. Estas fibras se colocam paralelamente ao longo eixo da raiz, portanto perpendiculares as fibras de Sharpey.
A substância fundamental cimenta as fibras entre si, enquanto que os osteócitos ficam englobados pela matriz, unidos uns aos outros pelos prolongamentos celulares.
b) Mineralização da matriz - os osteoblastos elaboram a fosfatase alcalina. Os sais minerais depositados sobre a matriz transformam o tecido osteóide em osso.


3 - Osso de Suporte ou de Sustentação
É o osso que circunda o osso alveolar ou lâmina dura. É constituído de uma compacta óssea na superfície externa e na região intermediária, entre a lâmina dura e a compacta óssea externa, o osso é haversiano e esponjoso. Os espaços localizados entre os vários sistemas haversianos são preenchidos por medula óssea. Apenas na cortical do osso de suporte o processo alveolar está revestido por periósteo.
Crista alveolar - é a junção entre a cortical do osso de suporte e osso alveolar.
4 - Considerações Clínicas
O osso, um dos tecidos mais duros do nosso organismo, é biologicamente um tecido altamente plástico. É esta plasticidade biológica que permite ao ortodontista mover os dentes sem romper os ligamentos periodontais e suas relações com o osso alveolar. O osso é reabsorvido no lado da pressão e neoformado no lado da tensão.
O osso alveolar é geralmente bem preservado porque recebe sempre estímulos provenientes da tensão dos tecidos periodontais.

Cemento
1 – Introdução
O Periodonto de Sustentação ou de Inserção é o aparelho de fixação dos dentes, compreende três tecidos conjuntivos - dois mineralizados e um fibroso: osso alveolar propriamente dito, cemento e ligamento periodontal. A formação do periodonto de sustentação coincide com a rizogênese. O cemento recobre a dentina radicular, e modifica sua espessura dependendo da localização: próximo a junção esmalte-cemento é mais delgado (20 a 50um) e torna-se mais espesso a medida que se aproxima do ápice da raiz (150 a 200 um). O cemento representa um tecido conjuntivo mineralizado, avascular, que tem como principal função a inserção de fibras do ligamento periodontal a raiz do dente. Trata-se de um tecido muito semelhante ao osso, porém não possui a capacidade de remodelação, no entanto geralmente é mais resistente a reabsorção.

2 – Células
São os cementoblastos e os cementócitos, os cementoblastos formam o cemento e são encontrados revestindo a superfícies da raiz interpostos entre os feixes do ligamento periodontal. Freqüentemente são considerados como integrantes da população de células do ligamento periodontal. Os cementoblastos são grandes, arredondados, citoplasma basófilo indicativo de extenso retículo endoplasmático granular. Enquanto o cemento acelular está sendo formado, os cementoblastos recuam deixando para traz a matriz do cemento. Quando o cemento celular está sendo formado os cementoblastos ficam aprisionados em lacunas dentro da própria matriz e passam a se chamar cementócitos. Como o cemento é avascular os cementócitos dependem da difusão dos nutrientes através do ligamento periodontal e como consequência a maioria dos prolongamentos citoplasmáticos da célula está voltada para o ligamento.

3 – Composição Química
Material orgânico e água - 50 a 55% : representado por fibras colágenas intrínsecas e proteínas conjugadas a polissacarídeos (substância amorfa) e pelas fibras colágenas extrínsecas.
O colágeno do cemento assemelha-se com aqueles da dentina e do osso.
· Material inorgânico - 45 a 50% : a porção inorgânica consiste principalmente pelos sais de carbonato e fosfato de cálcio, depositados na forma de cristais de hidroxiapatita. Numerosos outros elementos químicos são encontrados no cemento, sendo o tecido mineralizado que apresenta o maior conteúdo em fluoretos.

4 – Cementogênese
O cemento é depositado em toda a superfície da dentina radicular. Uma vez formada a dentina radicular, a bainha epitelial de Hertwig se fragmenta e permite as células mesenquimais do folículo ou saco dental passarem por entre as células da bainha radicular vindo a se colocar em aposição a superfície dentinária radicular recentemente formada. As células mesenquimais agora chamadas cementoblastos, rapidamente aumentam de tamanho e desenvolvem organelas citoplasmáticas especializadas na síntese e secreção de proteínas. Uma vez diferenciadas elas iniciam a deposição de matriz orgânica do cemento que consiste de fibras colágenas intrínsecas e proteínas conjugadas a polissacarídeos, contra a superfície dentinária radicular e ao redor dos feixes de fibras colágenas do ligamento em formação (fibras extrínsecas ou fibras de Sharpey). A mineralização ocorre as custas dos vasos sangüíneos que levam íons de cálcio e fosfatos que se depositam na matriz de cemento sob a forma de cristais de hidroxiapatita. Esta matriz orgânica ou cementóide é depositada ritmicamente em lamelas sucessivas, sempre seguidas pela mineralização. Se o cementoblasto se retrai em direção ao ligamento, teremos formado o cemento acelular.
Cemento acelular - não contém células no seu interior. Aparece com maior incidência no terço médio e cervical da raiz.
Se por outro lado, o cementoblasto não se move e torna-se aprisionado na matriz, teremos o cemento celular formado. A presença do cemento celular é mais comum no terço apical. Neste terço, o cemento é mais espesso e contém cementócitos no seu interior.
Obs: Se o cementócito não apresentar função, ele vem a morrer, formando assim, lacunas por dentro do cemento.
A deposição do cemento é contínua e sua espessura na superfície radicular aumente com a idade.
Os desgastes do esmalte são compensados pela formação constante, porém intermitente do cemento radicular. É a erupção passiva do dente.


5 – Funções do Cemento
a) A função primordial do cemento é fornecer um meio de inserção das fibras colágenas que unem o dente ao osso alveolar. As fibras colágenas do ligamento periodontal passam entre os cementoblastos e penetram ao interior do cemento. Essas fibras do ligamento periodontal que estão incluídas no cemento, servem para fixar o dente ao osso alveolar circundante. Suas porções incluídas são conhecidas como fibras de Sharpey.
b) Compensar o desgaste oclusal através do seu crescimento contínuo que ocorre no terço apical (erupção passiva).
c) Capacitar através do seu crescimento contínuo, fenômeno tais como: erupção, mesialização fisiológica e movimentos ortodônticos.
d) Possibilita o contínuo rearranjo das fibras do ligamento. Em condições normais o cemento não se reabsorve. Devido a contínua formação do cemento, as novas fibras do ligamento unem-se ao cemento recém-formado e as fibras de Sharpey antigas são continuamente reabsorvidas.
e) Função de reparação: o cemento serve como maior tecido reparador para as superfícies das raízes. Danos aos dentes, como o caso de fraturas ou reabsorções que envolvem tanto cemento como dentina, podem ser reparadas pela aposição de novas camadas de cemento.

6 – Hipercementose
É um espessamento anormal do cemento em dentes funcionais podendo ser difusa ou circunscrita, pode também afetar um dente ou parte dele.
6.1 Hipertrofia- É um crescimento excessivo, visando melhorar as qualidades funcionais do cemento. Esta condição é freqüentemente encontrada nos dentes expostos a grandes pressões, proporcionando uma maior superfície de ancoragem as fibras de inserção. A hipertrofia é encontrada com freqüência no terço apical.
6.2 Hiperplasia - Caracteriza-se também por um crescimento excessivo do cemento ocorrendo em dentes não funcionais. Essa hiperplasia é caracterizada por uma redução em número das fibras de Sharpey.
6.3 Anquilose - Ocorre devido a um crescimento excessivo do cemento, culminando com a união do mesmo ao osso alveolar. A anquilose pode provocar fraturas maxilares ou mandibulares, pois os dentes não realizam sua movimentação no alvéolo (Gonfose). A intervenção clínico cirúrgica é a própria extração do dente.


7 – Relação esmalte - cemento
A relação entre o cemento e o esmalte na região cervical é variável.
a) Em 30% dos casos o cemento encontra-se com a extremidade cervical do esmalte numa linha aguda.
b) Em 60% o cemento recobre a extremidade cervical do esmalte.
c) Em 10% não existe a junção esmalte-cemento e uma zona de dentina radicular encontra-se exposta.
Ocorrendo exposição da dentina, esta precisa ser tratada pelo dentista, devido a dor causada por estímulos dos canalículos dentinários, que devem ser mineralizados (parte inicial do canalículo).
d) Muito raramente o esmalte pode sobrepor-se ao cemento.

8 – Junção cemento - dentina
A união do cemento a dentina é bastante firme embora a natureza desta união não seja completamente conhecida.

9 – Limite CDC (cemento dentina canal)
O canal radicular termina no forame apical onde a polpa e o ligamento periodontal se comunicam, e onde os nervos e vasos principais penetram e deixam o dente. Temos então que o canal radicular apresenta uma divisão biológica, sendo que um contém o tecido pulpar propriamente dito e um canal que contém o tecido conjuntivo periodontal. O tecido conjuntivo pulpar preenche o espaço do canal radicular revestido pela dentina circumpulpar e o tecido conjuntivo periodontal é aquele contido pelo canal cementário. O ponto de união entre estes dois canais é o chamado limite CDC.

10 – Considerações Clínicas
O cemento é mais resistente as reabsorções que o osso. Esta característica é importante principalmente na clínica de ortodontia, no qual pretende-se movimentar o dente e isto é possível porque o osso no local submetido à pressão sofre reabsorção, e onde há tensão ocorre neoformação óssea, ao passo que o cemento se altera muito pouco. Essa diferença pode ser explicada porque o osso é ricamente vascularizado, enquanto o cemento é um tecido avascular.

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