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09 setembro 2010

Bruxismo na infância: um sinal de alerta para odontopediatras e pediatras

Revista Paulista de Pediatria

versão impressa ISSN 0103-0582

Rev. paul. pediatr. vol.27 no.3 São Paulo set. 2009

doi: 10.1590/S0103-05822009000300015

ARTIGO DE REVISÃO

Bruxismo na infância: um sinal de alerta para odontopediatras e pediatras

Childhood bruxism: a warning sign to pediatric dentists and pediatricians

Michele Baffi DinizI; Renata Cristiane da SilvaII; Angela Cristina C. ZuanonIII

IMestre em Odontopediatria e aluna de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Unesp, Araraquara, SP, Brasil
IIProfessora doutora da Disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo, SP, Brasil
IIIProfessora doutora do Departamento de Clínica Infantil da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Unesp, Araraquara, SP, Brasil

Endereço para correspondência


RESUMO

OBJETIVO: Apresentar uma revisão de literatura sobre o bruxismo na infância, abordando os fatores etiológicos, as características clínicas, os sinais e sintomas, a importância do diagnóstico por parte dos pediatras e odontopediatras e o tratamento multidisciplinar desta condição parafuncional.
FONTES DE DADOS: Foram selecionados os artigos mais relevantes sobre o tema publicados desde 1907 até 2007, com pesquisa realizada no Medline, na Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO) e em livros de Odontologia.
SÍNTESE DOS DADOS: O bruxismo é definido como um hábito não funcional do sistema mastigatório, caracterizado pelo ato de ranger ou apertar os dentes, podendo ocorrer durante o dia e durante o sono. A etiologia é multifatorial e a literatura sugere vários fatores associados: dentário, fisiológico, psicológico e neurológico. As forças exercidas pelo bruxismo podem provocar distúrbios em diferentes graus nos dentes e nos tecidos de suporte, na musculatura e na articulação têmporo-mandibular. O sinal mais comum é o desgaste nas faces incisais dos dentes anteriores e oclusais nos posteriores, além de mobilidade e hipersensibilidade dentárias, fratura de cúspides e restaurações e hipertonicidade dos músculos mastigatórios.
CONCLUSÃO: O conhecimento dos fatores etiológicos e das características clínicas do bruxismo na infância é fundamental para que o diagnóstico seja precoce, permitindo que pediatras, odontopediatras e psicólogos possam estabelecer um tratamento multidisciplinar e favoreçam o desenvolvimento integral da criança para a promoção de saúde e bem-estar individual.

Palavras-chave: bruxismo; crianças; odontopediatria; Pediatria.


ABSTRACT

OBJECTIVE: To present a review of literature on childhood bruxism, including etiological factors, clinical characteristics, signs and symptoms, the importance of the diagnosis by pediatric dentists and pediatricians and the multidisciplinary management of this parafunctional condition.
DATA SOURCE: The most relevant articles published on the subject from 1907 to 2007 were selected, from Medline and Brazilian Bibliography on Odontology databases as well as dentistry books.
DATA SYNTHESIS: Bruxism is defined as a non-functional habit of the stomatognatic system, characterized by the act of grinding or squeezing the teeth, with occurrences during the day or sleep. The etiology is multifactorial with contribution of several factors (dental, physiological, psychological and neurological variables). The forces produced by bruxism can harm the teeth, their supporting tissues, muscles and temporomandibular articulation. Common clinical signs are: attrition on the incisal faces of the anterior teeth and occlusal faces in the posterior teeth, as well as dental hypermobility and hypersensibility, cusp and restoration fracture and muscle hypertonicity.
CONCLUSIONS: The knowledge on the etiological factors and the clinical characteristics of childhood bruxism is important to establish early diagnosis and treatment, with a multidisciplinary approach that should include pediatricians, pediatric dentists and psychologists in order to provide adequate infant development focused on health promotion and individual well-being.

Key-words: bruxism; children; pediatric dentistry; Pediatrics.


Introdução

O bruxismo é uma atividade involuntária parafuncional, rítmica e espasmódica do sistema mastigatório produzida por contrações rítmicas ou tônicas do masseter e de outros músculos mandibulares(1) e caracterizada pelo ato de ranger ou apertar os dentes(2,3) tanto durante o período diurno como noturno(4,5). De acordo com Gusson(6), o bruxismo pode ocorrer de forma consciente, quando se mordem lápis ou dedos, ou inconscientemente. O ato de ranger ocorre frequentemente durante o sono, períodos de preocupação, estresse e excitação, acompanhado por um ruído notável(1). Já o apertamento, em geral sem ruídos, é mais comum durante o dia(7-9) e pode ser considerado mais destrutivo, uma vez que as forças são contínuas e menos toleradas(9).

Vários fatores etiológicos podem estar associados ao desenvolvimento do bruxismo, como os fatores locais, sistêmicos, psicológicos, ocupacionais e hereditários(6,10,11). Os sinais e sintomas mais frequentes são os desgastes oclusais e/ou incisais, destruição das estruturas de suporte, hipersensibilidade pulpar, mobilidade dentária, fratura de cúspides e restaurações, dores e distúrbios nas articulações temporomandibulares (ATM), hipertofia do masséter, cefaleia ao acordar, entre outros(2,12,13). O bruxismo pode também estar associado a parasomnias (fenômenos que ocorrem exclusivamente durante o sono), caracterizando-se por graus diferentes de excitação, como enurese noturna, falas durante o sono e sono agitado(6,14).

Na clínica odontológica, é comum observar desgaste excessivo nas faces oclusais e incisais das superfícies dentárias, principalmente na dentição decídua(15). Durante a infância, o bruxismo é mais severo nas crianças em idade pré-escolar devido às características estruturais e funcionais dos dentes decíduos, embora também apareça em crianças maiores e na dentição permanente(15).

O tratamento consiste em um trabalho multidisciplinar que abrange a odontologia, a medicina e a psicologia(15). A odontologia normalmente atua em procedimentos restauradores, tratamento ortodôntico e placas de mordida(16,17). Em algumas situações, pode haver a necessidade de um tratamento sistêmico com uso de medicação e tratamento médico, além de aconselhamento psicológico(18,19).

A origem do termo bruxismo data de 1907, quando Marie Pietkiewicz(20) utilizou a expressão la bruxomanie (bruxomania), derivada da palavra grega brychein, cujo significado é triturar ou ranger os dentes, e da palavra mania, que significa compulsão. Posteriormente, a palavra foi adaptada e, atualmente, é conhecida como bruxismo(1,21).

Assim, o presente artigo tem como objetivo abordar a prevalência, os fatores etiológicos, as características clínicas, a sintomatologia, as medidas terapêuticas e a importância do diagnóstico precoce do bruxismo em crianças tanto por parte dos odontopediatras como pediatras, para que se possa atuar precocemente sobre essa disfunção.

Importância e características clínicas

Estudos relatam uma prevalência em torno de 7 a 20%(22-29). Entretanto, Garcia et al(8) relataram uma prevalência de 40% em pré-escolares de três a seis anos de idade, de 17% na faixa de seis a sete anos e 24% na faixa dos oito aos nove anos. O bruxismo esteve presente em 40% das crianças examinadas, sendo que destas, 60% apresentavam o hábito de ranger os dentes, 8% apenas apertavam e 32% rangiam e apertavam os dentes simultaneamente.

Shinkai et al(9) observaram alta prevalência do bruxismo em crianças: 43% entre crianças com idade de dois a três anos, 35% entre quatro e cinco anos e 34% entre dez e 11 anos de idade. De acordo com os autores, a maioria das crianças apresentava comportamento ansioso ou hiperativo.

Em bebês, o bruxismo pode ser observado logo após a erupção dos incisivos decíduos por volta de um ano de idade(30). Em um estudo recentemente realizado por Petit et al(31), observou-se que 46% das crianças examinadas com idade entre 2,5 e seis anos apresentavam bruxismo. Além disso, notou-se que a prevalência do bruxismo aumenta significativamente com a idade. Os autores observaram também que o bruxismo noturno persistente se relacionava à permanência dos pais junto aos filhos até que adormecessem.

De acordo com Bayardo et al(25) e Hublin et al(32), o bruxismo é mais frequente no sexo feminino, mas Barthi et al(29) observaram que 92% das crianças com bruxismo eram do sexo masculino. Por outro lado, Demir et al(28) e Petit et al(31) não notaram diferença estatisticamente significativa na prevalência de bruxismo entre crianças de ambos os sexos.

O bruxismo apresenta incidência de 60% em crianças alérgicas, isto é, três vezes maior do que entre crianças não alérgicas(33). Para o autor, hábitos orais, como morder ou mascar brinquedos e lápis, sucção digital, língua protruída e respiração bucal também podem estar associados ao bruxismo.

Várias teorias sobre os possíveis fatores etiológicos relacionados ao bruxismo têm sido relatadas. Muitos acreditam que o bruxismo apresenta etiologia multifatorial(18,34,35) que pode ser explicada por fatores locais, sistêmicos, psicológicos, ocupacionais e hereditários(6,9,10,15).

Dentre os fatores locais, pôde-se observar maloclusões, traumatismo oclusal, contato prematuro, reabsorção radicular, presença de cálculo dental, cistos dentígeros, dentes perdidos, excesso de material restaurador e tensão muscular(11,36). Entretanto, alguns autores observaram que a presença de maloclusão não aumenta a probabilidade de a criança desenvolver bruxismo(5,28). Há evidências de que o bruxismo em crianças pequenas pode ser consequência da imaturidade do sistema mastigatório neuromuscular(17). Outros autores associam a presença de bruxismo ao tempo de aleitamento materno. Em estudo realizado com 427 crianças de idade entre três e seis anos de idade, Ferreira e Toledo(37) observaram que quanto mais prolongado o aleitamento materno, menor a ocorrência de hábitos orais nocivos, como o bruxismo.

Sistemicamente, deficiências nutricionais e vitamínicas, alergias, parasitoses intestinais, distúrbios otorrinolaringológicos, distúrbios gastrintestinais, desordens endócrinas, paralisia cerebral, Síndrome de Down e deficiência mental podem estar relacionados ao desenvolvimento do hábito(9,10,17,18). DiFrancesco et al(38) observaram uma associação positiva entre problemas respiratórios durante o sono, como a obstrução das vias aéreas devido à hiperplasia tonsilar, e a presença de bruxismo em crianças. Os autores relataram que, após a cirurgia de adenoides e tonsilas, as crianças apresentaram uma melhora significativa no quadro de bruxismo.

Forte tensão emocional, problemas familiares, crises existenciais, estado de ansiedade, depressão, medo e hostilidade, crianças em fase de autoafirmação, provas escolares ou mesmo a prática de esportes competitivos e campeonatos podem atuar como fatores de origem psicológica e ocupacional para o desencadeamento desta condição(2,15,17,21,39). De acordo com Restrepo et al(35), a ansiedade tem sido o fator emocional mais estudado em crianças.

Segundo Wolf(40), o bruxismo é considerado uma resposta de escape, uma vez que a cavidade bucal possui um forte potencial afetivo, além de ser um local privilegiado para a expressão de impulsos reprimidos, emoções e conflitos. Dessa forma, algumas crianças, por não conseguirem satisfazer seus anseios, desejos e necessidades, acabam por ranger ou apertar os dentes para compensar tais problemas ou como uma forma de autoagressão.

Vanderas(5) observou aumento de atividade parafuncional em um grupo de crianças tensas, ansiosas, nervosas ou sob estresse. Shinkai et al(9) relataram que o comportamento diário da criança atua de maneira significativa na ocorrência do bruxismo em comparação a situações passageiras de estresse emocional. As variações na personalidade da criança muitas vezes são responsáveis pelo desenvolvimento deste hábito(41).

Com relação aos fatores hereditários, um estudo sobre predisposição genética confirmou que pais que possuíam o hábito na infância frequentemente apresentam filhos que apertam ou rangem os dentes(22). Reding et al(7) e Glaros(42) também observaram que crianças de pais com bruxismo são mais suscetíveis ao hábito, o que sugere uma predisposição hereditária, embora o modo de transmissão ainda seja desconhecido.

Weideman et al(14) verificaram que alguns fatores relacionados ao comportamento e condições físicas (por exemplo, mioespasmo muscular, enurese noturna, cólica, excessiva salivação noturna e conversar dormindo) apresentaram diferença significativa entre pacientes com e sem o hábito. Desta forma, os autores sugerem a possibilidade de que o bruxismo e outras parasomnias possam ocorrer simultaneamente em crianças predispostas a tais distúrbios do sono.

Mais recentemente, um estudo relatou o comportamento de neurotransmissores, principalmente a L-dopamina, no desenvolvimento de bruxismo. Observou-se, em pacientes com bruxismo noturno, que a dopamina não exacerba o hábito e, ao contrário, reduz sua frequência em aproximadamente 30%(34). Entretanto, novos estudos clínicos são necessários para que se estabeleça uma relação entre as substâncias adrenérgicas e o bruxismo, uma vez que o efeito pode ser tanto central à excitabilidade do sistema motor, como periférico, induzindo relaxamento(1).

Segundo Gusson(6), a criança pode desenvolver bruxismo após a erupção dos incisivos centrais decíduos, ocasionando dilacerações gengivais nos casos em que o antagonista ainda não erupcionou. O bruxismo infantil pode ser caracterizado pela presença de desgastes da superfície dentária, desconfortos musculares e articulares, atuando como coadjuvante na progressão da doença periodontal destrutiva e contribuindo para o desenvolvimento de falsa Classe III, além de acelerar a rizólise de dentes decíduos e provocar alterações na cronologia de erupção dos dentes permanentes. Descreve-se, também, a possibilidade de o bruxismo favorecer o apinhamento dental(11,18).

As facetas de desgaste observadas no bruxismo podem ser lisas (devido ao rangimento) ou rugosas (apertamento), de bordos bem definidos na fase inicial, atingindo mais os dentes anteriores do que os posteriores, principalmente caninos decíduos e permanentes(8,17). A presença de facetas de desgaste muitas vezes indica história pregressa de bruxismo, que pode não estar mais ocorrendo no momento do exame clínico ou estar se iniciando(43).

Os efeitos do bruxismo nos dentes dependem de vários fatores, como o tipo e gravidade da parafunção, número e localização dos dentes, posicionamento dentário na arcada, relações intermaxilares, altura das cúspides, mobilidade e contato interdentário(44,45).

Como o bruxismo é um reflexo subconsciente não controlado e leve, na maioria das vezes é desconhecido ou despercebido pelos pacientes e seus familiares. Assim, torna-se necessário estabelecer o diagnóstico precoce das possíveis alterações que poderão ocorrer, antes que o ciclo vicioso resulte em dano grave e permanente(4).

Em crianças, essa desordem normalmente é identificada pelos odontopediatras diante de desgastes dentários anormais, disfunções temporomandibulares e dor. No entanto, os pediatras podem reconhecer essa desordem em pacientes que procuram atendimento por dores de cabeça atípicas ou dores mandibulares ao acordar(1). Liljestrom et al(46) verificaram que tanto o bruxismo como as desordens temporomandibulares são encontrados em crianças que apresentam episódios de dores de cabeça.

A sintomatologia dolorosa depende da frequência, intensidade e idade do paciente, em associação à duração do hábito. Nas crianças, os sinais e sintomas são mais ocasionais e leves, o que explica o fato de elas estarem, na maioria das vezes, livres da disfunção da articulação temporomandibular (18).

É de fundamental importância realizar a anamnese completa da criança em ambiente tranquilo, contando com a participação dos pais para obter informações sobre a história médica geral, hábitos, queixa de dor, relacionamento familiar e social e avaliação do perfil psicológico da criança. O exame clínico minucioso, com palpação, ausculta, avaliação de tecidos moles e da língua, verificação da movimentação mandibular, análise da oclusão, bom como os exames radiográficos são importantes no diagnóstico preciso das alterações do sistema estomatognático(10).

A avaliação do desgaste dentário em pacientes com bruxismo se baseia principalmente no diagnóstico visual, sem diferenciar se a causa está relacionada a fatores psicológicos ou patológicos(47). Segundo Restrepo et al(48), imagens digitalizadas do desgaste dentário podem ser utilizadas como critério diagnóstico de bruxismo em crianças na dentição mista, após análise da área, perímetro e irregularidade na forma do desgaste dentário, diferenciando-se o desgaste patológico do psicológico.

Embora poucos estudos tenham analisado o desenvolvimento natural do bruxismo noturno, esta parece ser uma doença crônica persistente(1). De acordo com Abe e Shimakawa(22), o bruxismo, quando identificado na infância, persiste em 35% dos pacientes até a vida adulta. Mais recentemente, Hublin et al(32) relataram que os sintomas do bruxismo podem persistir em 86% dos casos na fase adulta.

É de fundamental importância o diagnóstico diferencial para que o bruxismo não seja confundido com outros movimentos faciais do sono, tais como atos de engolir, tossir, grunhir ou alternar a abertura e o fechamento mandibulares(49). Além disso, é necessário distinguir o ruído proveniente do bruxismo daquele causado pelo ato de roncar por meio de gravações ou técnicas de vigilância, uma vez que o ruído desencadeado pelo ranger dos dentes é característico em pacientes bruxistas(1).

A importância do tratamento multidisciplinar

A principal intervenção clínica relacionada ao bruxismo deve ser voltada para a proteção do dente, reduzindo o ranger, aliviando dores faciais e temporais e promovendo melhorias na qualidade do sono, caso seja deficiente. Para tanto, três tipos de estratégias devem ser empregadas: dentária, farmacológica e psico-comportamental(1).

Como a etiologia do bruxismo é, na maioria das vezes, um conjunto de fatores, o tratamento psicológico é importante, principalmente quando iniciado com o uso da placa de mordida. Essa placa visa a reduzir a atividade parafuncional, desprogramar e induzir ao relaxamento muscular, obter uma proteção dos dentes contra a atrição e desgaste, balanceio dos contatos oclusais, bem como reposicionar a mandíbula, colocando-a em uma relação normal com a maxila para alcançar um equilíbrio neuromuscular(1,16,50). A placa de mordida tem como vantagem não interferir no processo de crescimento das arcadas dentárias infantis ou alterar as suas características físicas, além de ser um tratamento reversível, de boa aceitação pelas crianças e eficaz(16-18). De acordo com Solberg et al(51), o uso de placa de mordida reduz a atividade muscular, proporcionando maior conforto ao paciente. O material de escolha para a confecção da placa deve ser à base de silicone, com espessura de aproximadamente 3mm, estendendo-se da região vestibular à lingual o suficiente para prevenir a perfuração e aumentar a resistência ao impacto(52).

Considerando, ainda, o tratamento dentário, deve-se avaliar a necessidade de ajustar a oclusão do paciente e restaurar as superfícies dentárias e contornos com materiais adequados e indicados para cada caso. Em alguns pacientes, o tratamento ortodôntico se faz necessário. Essas intervenções são extensas e irreversíveis e, consequentemente, não são indicadas na maioria dos casos(53,54).

Considerando a abordagem psico-comportamental, Ahmad(18), Attanasio(2) e Bader e Lavigne(1) indicam a psicoterapia (aconselhamento, autossugestão, hipnose, condicionamento, exercícios de relaxamento e biofeedback), medicamentos, como injeção de anestésico local na região, tranquilizantes, sedativos, miorrelaxantes e placebos. O uso de métodos elétricos, como estímulos eletrogalvânicos para o relaxamento muscular, sons (ultrassônicos) ou acupressão de áreas também são indicados. Na ausência de fatores sistêmicos, os autores preconizam os exercícios orais para dessensibilização (sensibilidade térmica, aconselhamento nutricional, suplemento de vitaminas e minerais).

Alguns estudos têm relatado que o uso de benzodiazepínicos (diazepam), relaxantes musculares (metocarbomol), precursores de catecolaminas (L-dopa) e antagonistas beta-adrenérgicos (propanolol) podem reduzir a frequência de bruxismo noturno(55,56). Entretanto, ainda não existem estudos clínicos que comprovem a eficácias desses medicamentos na faixa etária pediátrica. Dessa forma, tais medicamentos devem ser utilizados com cautela, optando-se sempre por outras estratégias para o controle do bruxismo.

Segundo Marini(57), antes de dar início a qualquer tipo de tratamento, os pais devem ser esclarecidos sobre a etiologia do bruxismo. De acordo com o autor, o ideal é a terapia multidisciplinar com dentista, psicólogo e o próprio paciente motivado. O tratamento proposto pelo profissional deve, portanto, abranger aspectos dentários, médicos e psicológicos, além da motivação do paciente(58).

Na realidade não existe nenhum tratamento específico para o bruxismo. Cada paciente deve ser avaliado individualmente e tratado de acordo com os fatores possivelmente associados para que futuras complicações dentárias sejam evitadas. O tratamento escolhido para crianças com bruxismo deve sempre ser reversível e conservador, de modo a não interferir negativamente no padrão de normalidade da dinâmica de crescimento e desenvolvimento infantil(50).

Conclusões

O bruxismo na infância é uma disfunção que vem crescendo em frequência na sociedade moderna. A carência de atendimento pode acarretar danos severos na cavidade bucal e na musculatura facial. Vários fatores predispõem uma pessoa ao desenvolvimento do bruxismo, sendo preponderantes os fatores psicológicos, como a ansiedade e o estresse emocional. O bruxismo é de difícil diagnóstico e o tratamento ideal é a terapia multidisciplinar. O diagnóstico precoce em crianças visa a manter a perspectiva de controle e prevenção de danos aos componentes do sistema mastigatório, além de propiciar bem-estar e conforto. O pediatra, por ser o primeiro profissional da saúde a estabelecer contato com a criança, possui importante papel no diagnóstico dessa desordem, atuando de forma efetiva no reconhecimento do problema e no encaminhamento aos demais profissionais da área de saúde, como os odontopediatras e psicólogos.

O pediatra e o odontopediatra devem estar aptos a compreender as possíveis causas, características clínicas, sinais e sintomas do bruxismo na infância, identificando o problema o mais precocemente possível. Uma vez diagnosticada a origem psicológica, é preciso encaminhar o paciente a um profissional especializado a fim de proporcionar um tratamento eficaz e duradouro. É fundamental que haja uma interação entre os profissionais das diversas especialidades envolvidas no tratamento de bruxismo em crianças, como os odontopediatras, pediatras e psicólogos, com o objetivo de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criança, promovendo a saúde.

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Endereço para correspondência:
Michele Baffi Diniz
Rua Orsini Dias Aguiar, 265 - Jardim Alvorada
CEP 15020-070 - São José do Rio Preto/SP
E-mail: mibdiniz@hotmail.com

Recebido em: 6/10/08
Aprovado em: 19/12/08

Instituição: Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho" (Unesp), Araraquara, SP, Brasil

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A IMAGEM DO CIRURGIÃO-DENTISTA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL

Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo

versão impressa ISSN 0103-0663

Rev Odontol Univ São Paulo v. 11 n. 4 São Paulo Out./Dez. 1997

doi: 10.1590/S0103-06631997000400013

A IMAGEM DO CIRURGIÃO-DENTISTA: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL

THE IMAGE OF THE DENTIST: A STUDY ON SOCIAL REPRESENTATION

Juliana de Souza CRUZ *
Luís Otávio de Miranda COTA *
Helena Heloísa PAIXÃO **
Isabela Almeida PORDEUS ***

CRUZ, J. S. et al. A imagem do cirurgião-dentista: um estudo de representação social. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 4, p. 307-313 , out./dez. 1997.

Com o objetivo de verificar a imagem do cirurgião-dentista, os autores desenvolveram um estudo qualitativo na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1994. Foram realizadas 80 entrevistas, com um roteiro aberto e uma amostra de conveniência, em duas etapas. A 1ª etapa era composta de 40 pessoas na faixa etária de 20-30 anos (10 homens e 10 mulheres com até o 1º grau completo e 10 homens e 10 mulheres cursando, no mínimo, o 3º grau) e a 2ª etapa, composta de 40 pessoas na faixa etária acima de 50 anos (10 homens e 10 mulheres com até o 1º grau completo e 10 homens e 10 mulheres cursando, no mínimo, o 3º grau). Os dados colhidos foram analisados segundo a Técnica de Análise de Conteúdo. O medo e a dor estavam fortemente associados à imagem do dentista, sendo relacionados ao instrumental e ao tratamento. Em alguns relatos de pessoas de 20-30 anos, o cirurgião-dentista apresentou uma imagem negativa, aparecendo como um carrasco, um castigo; em contrapartida, em outros relatos, ele assumiu características positivas, um profissional da saúde. As pessoas acima de 50 anos destacaram uma evolução do profissional em aspectos técnicos e de relacionamento. Para todas as categorias analisadas, os discursos se assemelham independentemente do sexo e grau de instrução.
UNITERMOS: Odontólogos; Relações dentista-paciente; Ansiedade ao tratamento odontológico; Dor.

INTRODUÇÃO

No presente momento, não se sabe qual a representação social do cirurgião-dentista na sociedade urbana brasileira e sua possível influência no tratamento, na manutenção preventiva e no autocuidado. A representação é uma realidade que se impõe aos indivíduos, uma vez que as formas coletivas de agir ou pensar são coisas que têm existência própria e os indivíduos já as encontram formadas (HERZLICH10, 1991). O real se constitui como realidade por intermédio do simbolismo, pois este lhe oferece consistência significativa para poder ser compartilhada por um grupo social específico (BIRMAN3, 1991). As concepções de saúde e doença estão relacionadas às raízes das pessoas, sendo influenciadas por suas experiências. Suas concepções se constróem em relação ao seu lugar e posição na sociedade (MINAYO18, 1989). Não fugindo a essa regra, as representações de saúde bucal são construídas através da vivência do cotidiano e de reinterpretações do discurso do profissional. Essas imagens surgem como reflexo das realidades objetivas de cada indivíduo, determinadas histórica e culturalmente (BERND et al.2, 1992).

Através da história, percebe-se que, inicialmente, a prática odontológica era primitiva e rudimentar. Em algumas sociedades, tais práticas eram usadas, inclusive, como forma de penalidade e tortura a quem transgredisse as leis (GUERINI8, 1909; RESENDE25, 1994). Apesar de a literatura científica reconhecer um progresso significativo nos tratamentos odontológicos, a literatura leiga afirma que uma das características da ciência que cuida da saúde da boca é evoluir muito lentamente e que dentista sem dor é coisa do futuro (OS BOCAS...21, 1994). Buscando a representação do cirurgião-dentista na literatura romanesca, percebemos que ele é retratado, em geral, de forma negativa, aparecendo como uma pessoa má e ridícula. Essa imagem é, também, veiculada pela TV e cinema (MARTINEZ15, 1990; PRIDE22, 1991; GERBERT6, 1992; MESKIN17, 1992; SCHUMAN et al.27, 1993; GERBERT7, 1994). Conseqüentemente, as pessoas, quando chegam ao consultório, trazem consigo uma carga de medo e ansiedade muito grande. Parece ser o medo uma reação natural e ser fato conhecido que os dentistas causam dor (KLEINKNECHT et al.11, 1973; SANTOS et al.26, 1981; RANKIN; HARRIS23, 1984; GALE et al.5, 1984; PRIDE22, 1991; BERND et al.2, 1992; OLIVEIRA et al.20, 1993; SCHUMAN et al.27, 1993).

A imagem do profissional parece estar consistentemente relacionada com a comunicação entre ele e o paciente (McKEITHEN16, 1966; KLEIKNECHT et al.11, 1973; BIRO; HEWSON4, 1976; GALE et al.5, 1984; RANKIN; HARRIS24, 1985; GERBERT et al.7, 1994). Os fatores mais importantes acerca do profissional, levantados pelos pacientes, são os comportamentais; as características do dentista ideal giram, principalmente, em torno de traços pessoais do profissional ligados à relação dentista-paciente (McKEITHEN16, 1966; HARRIS et al.9, 1988; LAHTI et al.12, 1992; GERBERT7, 1994; LAHTI et al.13, 1995).

Este estudo tem como objetivo verificar a representação social do cirurgião-dentista com pessoas de ambos os sexos, de diferentes faixas etárias e dois níveis educacionais, bem como observar se tal representação muda de acordo com essas variáveis.

MATERIAL E MÉTODO

Este trabalho apresenta um caráter qualitativo, não pretendendo verificar hipóteses levantadas a priori, mas sim explorar um tema (TRIVIÑOS28, 1987). Na pesquisa qualitativa, é o conjunto de situações que dá sentido, e não uma situação isolada; pode-se, entretanto, buscar o importante na novidade dos temas mesmo se a freqüência é pequena (MINAYO19, 1993). O estudo qualitativo permite abordar pontos mais explicativos de uma situação e, com seus achados, em um segundo momento, pode-se realizar uma pesquisa extensiva que permita validar seus dados e apreciar sua variação segundo critérios pertinentes (TRIVIÑOS28, 1987). Estando no estágio inicial de pesquisa do tema, considerou-se que uma análise qualitativa seria o melhor método para fornecer as categorias necessárias para uma comprovação posterior através de uma quantificação rigorosa.

Foram realizadas 80 entrevistas com um roteiro semi-estruturado, seguido de questões abertas direcionadas, ambos pré-testados, com uma amostra de conveniência na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1994. O estudo foi dividido em duas etapas, sendo:

a) 1ª etapa: entrevistas com 40 pessoas na faixa de 20-30 anos, sendo 20 delas com nível de escolaridade até 1º grau completo (10 homens e 10 mulheres) e 20 delas cursando, no mínimo, o 3º grau (10 homens e 10 mulheres).

b) 2ª etapa: entrevistas com 40 pessoas na faixa etária acima de 50 anos, sendo 20 delas com nível de escolaridade até 1º grau completo (10 homens e 10 mulheres) e 20 delas cursando, no mínimo, o 3º grau (10 homens e 10 mulheres).

Tais faixas etárias foram escolhidas porque os indivíduos que a elas pertencem tiveram contato com "tipos diferentes de Odontologia": a) indivíduos acima de 50 anos vivenciaram uma Odontologia com enfoque cirúrgico-restaurador, tratamentos sem anestesia, motores de baixa rotação, dentre outros; b) indivíduos entre 20-30 anos vivenciaram uma Odontologia mais conservadora, com enfoque preventivo, uma Odontopediatria mais consistente, tratamentos com anestesia, dentre outros.

Optou-se pelo roteiro aberto, para induzir o mínimo possível as respostas e recolher o maior número possível de percepções, captando a visão própria dos indivíduos. Ao final da entrevista, foram colocadas duas questões diretas, uma sobre a primeira idéia que surge quando se fala em dentista e outra sobre o dentista ideal. As entrevistas foram gravadas e aplicadas pelo mesmo pesquisador. Os dados colhidos foram analisados segundo a Técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN1, 1993). As categorias de análise estabelecidas foram: o medo, a dor, o custo, a primeira idéia sobre o dentista, o dentista ideal e a imagem do profissional.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação a todas as categorias estudadas, os relatos se assemelham, independentemente do sexo ou grau de instrução.

Medo

"... a gente tem muito medo, né? Acho que quase todo mundo tem medo de dentista. Chegou a hora de ir no dentista, tem medo mesmo!" (mulher, 1º grau, acima de 50 anos)

O medo está presente, na grande maioria das entrevistas, fortemente associado à imagem do dentista. Esse sentimento faz parte do cotidiano da relação dentista-paciente, aparecendo nos relatos tanto como uma sensação do entrevistado, como das pessoas com as quais ele convive. Observa-se, dessa forma, que o medo é comum, natural e inquestionado. Nas falas de indivíduos mais velhos, esse medo aparece mais como um sentimento do próprio entrevistado. Eles percebem uma evolução do profissional e acreditam que a postura das pessoas, principalmente as mais jovens, frente ao profissional, mudou.

"Isso eu acho que é normal, né, a gente tem medo de tratar de dente. Agora, eu tenho um netinho, ele não tem medo. Ele acha uma beleza ..." (mulher, 3º grau, acima de 50 anos)

O medo surge nos indivíduos de duas formas, distintas ou conjugadas, que são: a) através de suas próprias experiências; b) através das expectativas e experiências dos outros, da mídia e do senso comum; ou seja, os indivíduos vivenciam o medo ou já o encontram estabelecido e o assimilam. As situações odontológicas anteriormente vividas pelos pacientes influenciam a sua postura atual frente ao profissional. Os relatos dos entrevistados mostram mudança de comportamento de acordo com as experiências passadas. As experiências complicadas, más ou desagradáveis, condicionam o paciente ao medo; experiências boas parecem atenuar o impacto de experiências ruins.

"Tenho horror!... Porque eu sei que vou ser mal atendida. Eu já passei por uma série de dentistas, a experiência na minha família é péssima..." (mulher, 3º grau, acima de 50 anos)

É ressaltado por RANKIN; HARRIS23 (1984) que os níveis de ansiedade estão relacionados com histórias passadas de boas ou más experiências ou da combinação e ordem com a qual estas ocorrem. Dessa forma, é importante que o cirurgião-dentista dê atenção a esse fato para que possa, através de um bom relacionamento dentista-paciente, controlar e atenuar o medo apresentado por alguns de seus pacientes (RANKIN; HARRIS23, 1984). Os pacientes são sensíveis aos comportamentos de seus dentistas. Os pacientes reagem de uma maneira mais positiva quando o cirurgião-dentista apresenta um comportamento mais interativo (GALE et al.5, 1984; RANKIN; HARRIS24, 1985).

"... tem gente que morre de medo... e se o profissional não sabe conversar, conquistar..." (homem, 3º grau, 20-30 anos)

O medo é influenciado por expectativas de outros, como amigos e parentes. Os indivíduos citam experiências e opiniões de outras pessoas, aceitam-nas como verdades e as identificam como suas. O medo é assimilado de uma maneira natural e, até mesmo, inconsciente. As pessoas apresentam um condicionamento/aprendizagem de sentir medo (KLEINKNECHT et al.11, 1973; RANKIN; HARRIS23, 1984; PRIDE22, 1991).

"... a gente tinha pavor de dentista! Os pais da gente parece que já incutiam aquilo." (mulher, 3º grau, acima de 50 anos)

Com relação aos estímulos específicos causadores de medo, os entrevistados citam algumas vezes o instrumental e o tratamento em si. Assim como nos trabalhos de KLEINKNECHT et al.11 (1973), RANKIN; HARRIS23 (1984) e OLIVEIRA et al.20 (1993), o medo é associado, principalmente, à agulha e ao motor.

"Começo a suar a mão. Aqui, oh!... Não posso nem falar em dentista e começo a suar a mão. Aquele motorzinho afundando..." (mulher, 1º grau, 20-30 anos)

Porém, percebe-se que os entrevistados não apresentam esses estímulos claramente estabelecidos. Em ambas as faixas etárias, as pessoas apresentam dificuldades de especificar os estímulos causadores de medo. Cada paciente possui um padrão particular de resposta para um padrão particular de estímulos dentro da prática odontológica. As reações de medo são variadas e só aparentemente estão envolvidas com estímulos específicos (KLEINKNECHT et al.11, 1973). A relação entre medo e instrumental/tratamento é mais marcante em indivíduos mais jovens, apesar de os entrevistados mais velhos acreditarem que, devido aos avanços tecnológicos e às modificações no relacionamento dentista-paciente, essa postura tenha mudado. Deve-se ressaltar que os pesquisadores também acreditavam que o medo estaria mais presente naqueles indivíduos que vivenciaram um modelo de Odontologia com enfoque cirúrgico-restaurador. Esses estímulos específicos, geralmente, remontam a situações veiculadas pela mídia ou inerentes ao próprio passado histórico da Odontologia, em que a prática odontológica é associada a tortura, castigo, punição, dor, e o dentista assume um papel de carrasco, de uma pessoa má e cruel. A associação do tratamento odontológico com a tortura, passada através do senso comum, faz com que o medo seja resultado de toda uma situação que envolve a busca ao tratamento e este em si. A situação de ida ao dentista gera sensações que misturam medo, ansiedade," stress", aflição, pânico. De acordo com OLIVEIRA et al.20 (1993), esse medo é uma forma de reagir não só ao tratamento, mas à dor e à própria figura do dentista; esse medo exerce uma influência negativa no tratamento, afetando desde a freqüência de ida ao profissional até a cooperação do paciente.

Dor

"... você sempre passa por aquele problema de dor de broca, que é horrível!" (homem, 3º grau, 20-30 anos)

A associação da imagem do cirurgião-dentista e do tratamento à dor aparece nos relatos de forma consistente. A dor não vem associada a nenhum estímulo específico de forma marcante, apenas ao tratamento e ao dentista de uma forma geral. A associação da dor a estímulos específicos, quando ocorre, envolve instrumentais e traduz, de certa forma, situações de agressão ao organismo do paciente, como o uso da broca/motor e agulha/anestesia. A Odontologia ataca os pacientes em quase todos os níveis sensoriais, incluindo audição, visão, olfação, tato e gustação (SCHUMAN et al.27, 1993). Uma reação natural frente a essas situações de agressão e à dor ou à" possibilidade de doer" é o medo. Em algumas entrevistas, a dor aparece como um fator desencadeador do medo. A associação da dor a estímulos específicos é mais evidente nas entrevistas de indivíduos mais jovens.

Custo

"... e o povo em si não tem condições de chegar num dentista porque o tratamento é caro." (homem, 3º grau, acima de 50 anos)

Alguns relatos mostram uma certa angústia, uma não conformação com os preços do tratamento odontológico. Algumas vezes, o dentista é identificado como mercenário, uma pessoa que só pensa em dinheiro. O custo elevado do tratamento é identificado como falta de caridade e inconsciência social da profissão. LIU14 (1992) relata que a inconsciência social da Odontologia tem exercido um grande papel no declínio da confiança do público. O custo elevado do tratamento é associado à imagem do dentista em apenas uma pequena parte das entrevistas, sendo mais marcante nos relatos de indivíduos mais velhos.

O profissional

A primeira idéia

Quando os entrevistados foram argüidos sobre a primeira idéia que lhes vem à cabeça quando se fala em dentista, não se observou um padrão de respostas homogêneo. São relatadas imagens acerca do tratamento e do profissional, de uma forma geral. Porém, percebe-se que, em um grande número de entrevistas de mulheres acima de 50 anos, a primeira idéia que vem à cabeça quando se fala em dentista é o medo. Pode-se agrupar as respostas da seguinte maneira:

a) um primeiro grupo, o predominante, aborda sensações e sentimentos; cita medo, tensão, pavor, dor, compromisso, castigo, sofrimento.

"Ah, eu sinto... sei lá, já começa a doer. É uma coisa ruim, já dói, é uma sensação horrível!" (mulher, 1º grau, 20-30 anos)

b) um segundo grupo lembra do instrumental utilizado e de situações de tratamento: cita broca, motor, agulha, anestesia e, também, a passividade do paciente e a invasão de um espaço privado, a boca.

"A gente pensa em agulha, pensa naquele motorzinho... A gente pensa naquela pessoa toda de branco que põe a gente na cadeira lá, deita na cadeira, abre a boca da gente, põe uns negócios na boca..." (mulher, 1º grau, 20-30 anos)

c) um terceiro grupo relata qualidades profissionais em suas respostas, tais como competência, habilidades e capacidade técnica, de uma maneira positiva.

"... eu penso numa pessoa capaz, naquele profissional que está interessado em realmente fazer um bom tratamento." (mulher, 3º grau, acima de 50 anos)

d) um quarto grupo, composto de indivíduos mais jovens, em que o dentista aparece apenas como mais um profissional.

"... dentista, é uma pessoa comum, um profissional que tá ali ..." (mulher, 3º grau, 20-30 anos)

O cirurgião-dentista ideal

"... é um dentista calmo, que conversa com a gente, dá conforto. Porque tem uns aí que a gente vai chegando, vai logo mandando abrir a boca, não fala nada." (mulher, 1º grau, 20-30 anos)

A grande maioria dos entrevistados, quando questionados a respeito do dentista ideal, aborda características pessoais desse profissional, características essas que giram em torno da relação dentista-paciente. Calma, paciência, tranqüilidade, capacidade de comunicação e informação são algumas qualidades que aparecem com maior freqüência. Os estudos de McKEITHEN16 (1966), HARRIS9 (1988), LAHTI12 (1992), GERBERT7 (1994) enfatizam que os fatores mais importantes para se classificar um dentista como ideal são componentes comportamentais de competência profissional, relativos a personalidade e atitude do dentista frente ao paciente. É ressaltado, pelos entrevistados, que o cirurgião-dentista deve conversar com o paciente, explicando o que vai ser feito e utilizando, para isso, uma linguagem acessível. Os entrevistados, principalmente as mulheres, dão ênfase ao diálogo entre profissional e paciente. Essa conversa é importante na medida em que descontrai e tranqüiliza o paciente. Poucos são os entrevistados que citam qualidades profissionais quando discursam sobre o cirurgião-dentista ideal. Quando aparecem, tais qualidades são profissionalismo, responsabilidade e competência.

A imagem do profissional

Para indivíduos mais jovens, em várias entrevistas, o dentista é referido como um mal necessário, um carrasco, um incômodo, um compromisso, um castigo. Ênfase negativa é dada ao tratamento e à situação de ida ao dentista. Em contrapartida, em outras entrevistas, o dentista é descrito como um profissional da saúde, que cuida dos dentes, com ênfase positiva.

"... ir ao dentista era uma coisa de... igual estar indo para a guilhotina." (homem, 1º grau, 20-30 anos)

Um ponto em comum, na grande maioria dos relatos desses indivíduos, é uma clara dissociação entre o seu próprio dentista e os dentistas em geral. Estes aparecem com uma imagem bastante negativa, semelhante àquela veiculada pela mídia, sendo caracterizados como estúpidos, cruéis e até mesmo incompetentes, enquanto seus próprios dentistas, graças à sorte dos pacientes (segundo seus próprios relatos), são compreensivos, amigos, delicados, dentre outros.

"Mas geralmente, não sei se foi porque eu dei sorte, mas todos os dentistas que eu procurei foram ótimos comigo." (homem, 1º grau, 20-30 anos)

Os indivíduos mais velhos acreditam que o dentista atualmente é um profissional mais capacitado, tanto em aspectos técnicos quanto em aspectos pessoais e de relacionamento. Quanto à técnica, relatam uma clara evolução com relação ao instrumental e ao equipamento e, em conseqüência disso, um avanço enorme nos recursos e nas possibilidades de tratamento. Quanto ao relacionamento, vêem o cirurgião-dentista como um profissional mais consciente e preocupado com os aspectos que envolvem a relação dentista-paciente. Relatam, ainda, haver um maior diálogo.

Acreditam que o cirurgião-dentista está mais preparado para abordar o seu paciente.

"Como um todo está muito melhor... conversa mais, é mais amigo... os dentistas são muito mais profissionais, estão muito melhores..." (mulher, 3º grau, acima de 50 anos)

CONCLUSÕES

  • O medo está fortemente associado à imagem do cirurgião-dentista, aparecendo de maneira mais marcante em pessoas de 20-30 anos. Esse medo é relacionado ao instrumental e ao tratamento e aparece como um sentimento comum entre as pessoas, sendo resultado de experiências próprias ou de outrem.
  • A dor está associada à imagem do dentista com uma elevada freqüência. Indivíduos de 20-30 anos associam a dor ao instrumental.
  • O elevado custo do tratamento está ligado à imagem do dentista, principalmente entre indivíduos acima de 50 anos.
  • Na faixa etária de 20-30 anos, o dentista aparece, em algumas entrevistas, com uma imagem negativa. É referido como um mal necessário, um castigo, e associado a sensações de "stress" e ansiedade. Em contrapartida, em outras entrevistas, assume características positivas aparecendo simplesmente como um profissional que cuida dos dentes.
  • Na faixa etária acima de 50 anos, o dentista aparece como um profissional mais capacitado, tanto em aspectos técnicos quanto pessoais. É destacada uma evolução da profissão.
  • Calma, paciência, capacidade de informação e comunicação são as características que aparecem com maior freqüência na definição de um dentista ideal.

AGRADECIMENTOS

Este estudo contou com o apoio de CNPq, FAPEMIG, Pró-Reitoria de Graduação/UFMG e Pró-Reitoria de Pesquisa/UFMG.

CRUZ, J. S. et al. The image of the dentist: a study on social representation. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 4, p. 307-313, out./dez. 1997.

With the objective of assessing the image of dentists, a qualitative study was developed in Belo Horizonte during the year of 1994. Eighty interviews were conducted using open-ended questions: 40 individuals aged 20-30 (10 males and 10 females with up to 4 years of formal education, 10 males and 10 females with at least 13 years of formal education) and 40 individuals aged at least 50 (10 males and 10 females with up to 4 years of formal education, 10 males and 10 females with at least 13 years of formal education). The content analysis technique was applied to the data. Fear and pain were strongly associated to the image of the dentist, being both related to dental instruments and treatment. In some reports of those aged 20-30, the dentist had a rather negative image being described as a tyrant or compared to punishment. On the other hand, some reports of this same age group referred to the dentist with positive comments, considering him/her a health professional. Those interviewees aged 50 and above pointed out the evolution the profession has gone through, relating it to an improvement of technical aspects and dentist-patient relationship. For all groups and variables studied, no difference was observed between gender nor between the number of years of formal education.
UNITERMS: Dentists; Dentist-patient relations; Dental anxiety; Pain.

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Recebido para publicação em 28/04/97
Aceito para publicação em 11/06/97

* Cirurgiões-dentistas graduados pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
** Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
*** Professora Adjunta do Departamento de Odontopediatria e Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

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ANOMALIAS DENTÁRIAS EM CRIANÇAS: UM ESTUDO RADIOGRÁFICO

Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo
versão impressa ISSN 0103-0663
Rev Odontol Univ São Paulo v. 12 n. 1 São Paulo Jan./Mar. 1998
doi: 10.1590/S0103-06631998000100009

ANOMALIAS DENTÁRIAS EM CRIANÇAS: UM ESTUDO RADIOGRÁFICO

DENTAL ANOMALIES IN CHILDREN: A RADIOGRAPHIC SURVEY



Thereza Christina Lopes COUTINHO*
Mônica Almeida TOSTES**
Maria Elisa Oliveira dos SANTOS***
Valéria Abreu da Silva BASTOS***





COUTINHO, T. C. L.; TOSTES, M. A.; SANTOS, M. E. O.; BASTOS, V. A. S. Anomalias dentárias em crianças: um estudo radiográfico. Rev Odontol Univ São Paulo, v.12, n.1, p.51-55, jan./mar. 1998.

O estudo abrangeu a identificação das anomalias dentárias mais freqüentes observadas através da análise radiográfica de 324 pacientes (04-12 anos), de ambos os sexos, atendidos na FO-UFF entre 1992 e 1996, relacionando-as com sexo, localização, tipo de tratamento realizado e complicações associadas. Uma prevalência de 11,4% foi observada, afetando crianças de 08 a 11 anos, sem diferença entre os sexos. A anomalia de número foi a mais encontrada (6,5%), com a região ântero-superior concentrando a maioria dos casos (46%). As complicações associadas mais comuns foram impactação (41%), perda de espaço (36%), giroversão (18%) e desvio do trajeto eruptivo (5%). A maior porcentagem dos casos foi tratada cirurgicamente com posterior tratamento ortodôntico (48,7%). Enfatiza-se a importância do uso da radiografia no diagnóstico precoce dessas anomalias em crianças.

UNITERMOS: Anomalias dentárias; Radiografia dentária; Odontopediatria.





INTRODUÇÃO

É responsabilidade do odontopediatra, ao realizar o atendimento de um paciente infantil, supervisionar não só as condições de toda a cavidade bucal, como também o bem-estar geral, através da avaliação dos dados obtidos na anamnese, no exame clínico e, freqüentemente, pelas radiografias13.

O exame radiográfico é um instrumento de diagnóstico importante e fundamental para o sucesso do tratamento de crianças, não só para o diagnóstico de cáries iniciais, como também para a detecção precoce de problemas de erupção ou de desenvolvimento que ocorrem durante os estágios de iniciação e proliferação dos germes dentários3. Estes geram várias anomalias, com conseqüências desagradáveis para o estabelecimento de uma oclusão harmônica7,17.

A importância do estudo dessas anomalias em Odontopediatria reside no fato de que, através de um diagnóstico precoce, pode-se prevenir a instalação de problemas oclusais não só na dentição decídua, como também na fase de dentadura mista8. Embora muitas dessas condições possam ser detectadas radiograficamente enquanto a criança ainda está nos estágios de dentição decídua ou mista, pouca atenção tem sido dada à investigação dessas anomalias dentárias no paciente jovem14.

Assim, o objetivo da presente pesquisa foi investigar, através da análise radiográfica, as anomalias dentárias mais freqüentes observadas em crianças de 04 a 12 anos atendidas na Clínica de Odontopediatria da FO-UFF, bem como relatar o tipo de tratamento realizado e as complicações mais comuns associadas a essas patologias.



MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados para a presente pesquisa foram coletados junto ao Arquivo da Disciplina de Odontope diatria da FO-UFF, na cidade de Niterói - RJ, compreendendo o período de março de 1992 a março de 1996, sendo selecionadas as fichas clínicas de 324 crianças de 04 a 12 anos, em um total de 149 meninas (46%) e 175 meninos (54%).

O critério para seleção dessa amostra baseou-se na condição de que as fichas contivessem pelo menos um dos seguintes exames radiográficos: periapical completo ou radiografia panorâmica com complementação. Tais radiografias deveriam apresentar boa qualidade técnica e proporcionar uma visualização de todos os dentes, erupcionados ou não, e de suas estruturas circundantes. A interpretação das mesmas processou-se em condições de iluminação ideal, ou seja, em uma sala cuja única luz era a do negatoscópio e com o auxílio de uma lupa (aumento de 3X).

Os dados de identificação da criança - nome, idade e sexo - bem como da anomalia - tipo, localização, tratamento e complicações associadas - foram registrados em uma planilha especialmente desenvolvida para o estudo. A avaliação estatística foi feita aplicando-se o teste não-paramétrico de c2 , adotando-se o nível de significância de 5% de probabilidade18.



RESULTADOS

Do total de 324 fichas clínicas avaliadas, 37 (11,4%) apresentavam algum tipo de anomalia dentária (Tabela 1). Das 37 crianças afetadas, duas apresentavam mais de um tipo diverso de anomalia, totalizando 39 casos. A prevalência entre meninos e meninas foi similar. As meninas exibiram uma prevalência de 12,7% (n=19), enquanto que os meninos, de 10,3% (n=18), sem diferença estatística significativa (c2 = 1,3n.s.; p>0,05) (Gráfico1). A faixa etária mais afetada, em ambos os sexos, compreendeu as idades de 08 a 11 anos.



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GRÁFICO 1 - Prevalência dos pacientes com anomalias dentárias de acordo com o sexo.



As anomalias mais observadas na amostra foram as de número (6,5%; n=21), incluindo anodontia e dentes supranumerários, seguidas em ordem decrescente de freqüência pelas anomalias de forma (2,7%; n=9), de erupção (2,5%; n=8) e de tamanho (0,3%; n=1), conforme representado no Gráfico2.



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GRÁFICO 2 - Distribuição das anomalias dentárias observadas na amostra de 37 crianças.



Quanto à localização, o arco superior foi significativamente mais afetado do que o arco inferior (74% e 26%, respectivamente) (Gráfico 3), entretanto sem diferença quanto aos hemiarcos direito (24%) e esquerdo (30%). Vale ressaltar, porém, a concentração significativa da maioria dos casos na região anterior do maxilar superior (46%) (Gráfico4).



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GRÁFICO 3 - Distribuição das anomalias dentárias de acordo com sua localização nos arcos superior e inferior.





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GRÁFICO 4 - Anomalias dentárias de acordo com a região afetada



Com relação às complicações mais comuns associadas, observou-se impactação (41%), perda de espaço no arco (36%), giroversão (18%) e desvio do trajeto eruptivo (5%), ocasionadas pela presença de anomalias de número como supranumerários e erupção ectópica de molares permanentes (Tabela 2).



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O tratamento compreendeu cirurgia associada a tratamento ortodôntico (48,7%), principalmente nos casos de supranumerários; observação clínica e radiográfica (36%), nos casos de anodontia e anquilose; apenas tratamento ortodôntico (12,8%), para o problema de erupção ectópica, e protético (2,5%) em um paciente com oligodontia (Tabela 3).



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DISCUSSÃO

A prevalência de anomalias dentárias encontradas nesta pesquisa (11,4%) aproxima-se dos resultados obtidos por McKIBBEN; BREARLEY14 em 1971 (7,5%), que avaliaram 1.500 crianças de 03 a 12 anos, e é superior aos achados de BUENVIAJE; RAPP4 em 1984 (5,4%), cuja amostra compreendeu 2.439 crianças de 02 a 12 anos.

Como relatado por LAI; SEOW11 em 1989, as anomalias de número, como a anodontia e os dentes supranumerários, são as mais comuns que ocorrem no homem. O presente estudo apóia essa afirmativa, uma vez que, das 37 crianças com anomalia, 21 (56,7%) apresentavam anomalias de número.

A prevalência de anodontia, que foi de 2,7% (9crianças afetadas), é comparável à dos estudos de BYRD5 (1943) e GLAVAM; SILVA8 (1994) e menor do que a observada por CLAYTON6 (1956); GLENN9 (1964); MULLER et al.15 (1970); McKIBBEN; BREARLEY14 (1971) e BUENVIAJE; RAPP4 (1984). Entretanto, no presente estudo, a maioria dos casos encontrados afetava os 2os pré-molares inferiores bilateralmente, o que está de acordo com estudos prévios4,5,9,11,14.

Quanto aos dentes supranumerários, a prevalência de 3,7% encontrada é semelhante à observada por GLAVAM; SILVA8 em 1994 e superior a de outros estudos4,5,6,14. Essa discrepância pode estar relacionada a diferenças raciais, faixa etária da amostra e métodos de diagnóstico, que são os fatores mais importantes a influenciar os resultados14. Estudos baseados apenas no exame visual podem proporcionar dados bem abaixo da prevalência real10. Em relação à localização, 91,6% dos dentes supranumerários estavam presentes na região da pré-maxila, o que também está em concordância com os achados de outros pesquisadores4,5,14,19.

Como relatado em outros trabalhos6,11,12,14, o presente estudo não encontrou diferenças significativas entre os sexos com relação à prevalência de anomalias dentárias em crianças.

Das anomalias de forma, 100% dos casos compreendiam a ocorrência de dilaceração coronária e/ou radicular afetando incisivos centrais supe riores permanentes. Analisando-se as fichas de anamnese, observou-se que os casos estavam associados a traumatismo na região ântero-superior em idade muito precoce, o que confirma os achados de ANDREASEN; RAVN1 (1971) e de ZILBERMAN et al.21 (1992), que observaram a ocorrência de 4,7% de casos de dilaceração radicular envolvendo incisivos sucessores de dentes decíduos traumatizados.

Considerando-se as anomalias de erupção, 1,5% da amostra apresentava ectopia de 1os molares permanentes superiores, resultado que aproxima-se da prevalência relatada na literatura por PULVER16 em 1968 (2% a 4,3%). Quanto à anquilose, a porcentagem de crianças afetadas foi cerca de 1%, o que também está em concordância com estudos de VIA20 (1964), que encontrou prevalência de 1,3%.

Emrelação às anomalias de tamanho, estas foram as de menor freqüência na amostra (0,3%), prevalência similar à encontrada por CLAYTON6 (1956) e BUENVIAJE; RAPP4 (1984).

A presença de anomalias de desenvolvimento pode provocar várias complicações, como erupção retardada ou não erupção de dentes, falta de espaço e giroversões17, fato comprovado neste estudo, em que 84,8% dos casos diagnosticados (na sua maioria, anomalias de número e erupção) estavam associados a problemas de maloclusão. Deve-se salientar que a faixa etária mais abrangida pelo estudo, em ambos os sexos, foi a de 08 a 11 anos, o que justificaria a alta incidência de problemas oclusais encontrada nesta pesquisa. Uma vez que essas anomalias, em grande parte, ocorrem durante os estágios de iniciação e proliferação dos germes dentários7, o diagnóstico das mesmas em uma fase tardia de sua evolução promoveu o estabelecimento da maloclusão.

Como o desenvolvimento da dentição permanente é fortemente influenciado pela dentição decídua e algumas dessas patologias são assintomáticas e de evolução lenta, podendo muitas vezes passar despercebidas e trazer prejuízos para o paciente tanto em nível ósseo quanto dentário2, recomenda-se que a melhor maneira de prevenir a ocorrência desses problemas são o diagnóstico e a intervenção precoces, sendo a indicação do exame radiográfico panorâmico essencial ainda na idade de cinco anos, de modo a reduzir o número de filmes intra-orais necessários e a radiação emitida.

Portanto, a radiografia para o paciente infantil deve ter a finalidade de complementar o exame clínico, assegurando um diagnóstico acurado e fornecendo a base para um ótimo atendimento4. Desse modo, evitam-se traumas cirúrgicos extensos e tratamentos ortodônticos prolongados, obtendo-se, assim, prognóstico mais favorável para esses casos.



CONCLUSÕES

Com base nos resultados apresentados, concluiu-se que:

1. A prevalência de anomalias dentárias verificadas na amostra foi de 11,4%, afetando crianças de 08 a 11 anos e sem diferença significativa entre os sexos.

2. As anomalias mais freqüentes foram as de número (6,5%), seguidas pelas de forma (2,7%), de erupção (2,5%) e de tamanho (0,3%).

3. O arco superior foi o mais afetado (74%), tendo a região ântero-superior a maior concentração de casos (46%).

4. As complicações mais encontradas foram: impactação (41%), perda de espaço (36%), giroversão (18%) e desvio do trajeto eruptivo (5%).

5. O tratamento cirúrgico associado ao ortodôntico foi o mais indicado (48,7%), seguido pela observação clínica/radiográfica (36%) e pelo tratamento ortodôntico isolado (12,8%) e protético (2,5%).





COUTINHO, T. C. L.; TOSTES, M. A.; SANTOS, M. E. O.; BASTOS, V. A. S. Dental anomalies in children: a radiographic survey. Rev Odontol Univ São Paulo, v.12, n.1, p.51-55, jan./mar. 1998.

This study embraced the identification of the most frequent dental anomalies observed by X-ray analysis of 324 patients (04-12 years old), of both sexes, treated at the Fluminense Federal University, School of Dentistry, between 1992 and 1996, related with: sex, site of occurrence, treatment, and clinical complications. A prevalence of 11.4% was found, affecting 08 to 11 year-old children, with no difference between sexes. Anomaly of number was the mostly observed type (6.5%). The great majority of cases (46%) were in the premaxillary region. The most common clinical complications were: tooth impaction (41%), loss of space (36%), inverted teeth (18%), and atypical paths of eruption (5%). Surgical intervention followed by orthodontic treatment was the mostly recommended treatment (48.7%). The importance of X-ray use on the early diagnosis of these anomalies in children is stressed.

UNITERMS: Dental anomalies; Radiography, dental; Pediatric dentistry.





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Recebido para publicação em 03/06/97
Aceito para publicação em 11/12/97





* Especialista e Mestre em Odontopediatria pela UFRJ, Professora do Curso de Atualização em Odontopediatria da FO-UFF e Coordenadora do Estágio da Disciplina de Odontopediatria da FO-UFF.
** Mestre em Odontopediatria pela UFRJ, Professora Assistente de Odontopediatria da FO-UFF e Doutoranda em Odontopediatria pela USP.
*** Mestre em Odontopediatria pela UFRJ e Professora Adjunta de Odontopediatria da FO-UFF


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