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25 maio 2010

Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares†

Pesquisa Odontológica Brasileira
versão impressa ISSN 1517-7491
Pesqui. Odontol. Bras. v.14 n.2 São Paulo abr./jun. 2000
doi: 10.1590/S1517-74912000000200013

Odontologia Social

Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares†

The relationship between socioeconomic determinants and oral habits as risk factors for malocclusion in preschool children



Nilce Emy TOMITA*
Aubrey SHEIHAM**
Vitoriano Truvijo BIJELLA***
Laércio Joel FRANCO****

TOMITA, N. E.; SHEIHAM, A.; BIJELLA, V. T.; FRANCO, L. J. Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 169-175, abr./jun. 2000.

Tendo por objetivo avaliar como determinantes socioeconômicos afetam a prevalência de hábitos bucais deletérios em pré-escolares, este estudo transversal foi desenvolvido. O inquérito epidemiológico foi realizado no período de outubro de 1994 a dezembro de 1995. A amostra probabilística foi constituída por 2.139 crianças, de ambos os sexos, na faixa etária de 3 a 5 anos, matriculadas em instituições públicas ou privadas do município de Bauru - SP - Brasil. Uma subamostra de 618 crianças apresentou resposta ao questionário socioeconômico. A partir da hipótese que determinantes socioeconômicos afetam o estado emocional da criança e isto se manifesta através de hábitos bucais, como sucção de chupeta e sucção digital, foram realizadas análises bivariadas envolvendo as respostas ao questionário socieconômico e algumas variáveis de exposição. Alguns determinantes socioeconômicos, como o trabalho materno e ocupação da pessoa de maior renda no domicílio estão relacionados com a maior prevalência de hábitos bucais (p < p =" 0,8" a =" 0,95," d =" 1,5" n =" 9.418,"> R$ 1.500) e avaliada quanto à sua associação com os principais hábitos bucais: sucção de chupeta e sucção digital.

O hábito de sucção de chupeta apresentou tendência a ser mais freqüente entre as crianças de renda familiar mais baixa, para o sexo masculino e feminino, decrescendo com o incremento da renda. As diferenças não apresentaram significância estatística. A freqüência de sucção digital entre as crianças de ambos os sexos foi bastante baixa, sem influência do estrato de renda familiar.

Escolaridade materna

As respostas à questão escolaridade materna foram categorizadas em: 1º grau incompleto, 2º grau incompleto ou completo e universitário.

A freqüência de crianças que apresentam o hábito de sucção de chupeta apresentou tendência decrescente com o incremento da escolaridade materna, para o sexo masculino e para o feminino. Em ambos os casos, as diferenças não tiveram significância estatística.

O hábito de sucção digital não apresentou relação com o nível de escolaridade das mães entrevistadas. A freqüência de crianças com o hábito de sucção digital não apresentou diferenças estatisticamente entre os grupos, em ambos os sexos.

Trabalho materno

As respostas à questão se as mães trabalharam nos 12 meses anteriores ao questionário foram agrupadas em três categorias – sim, não ou outra situação. Esta última abrangeu a condição de estudante, trabalho eventual ou trabalho remunerado, realizado em casa.

O uso de chupeta não diferiu significantemente entre grupos, para o sexo masculino. Para o sexo feminino, no entanto, a freqüência de crianças com este hábito foi significantemente maior para aquelas cujas mães estão inseridas no mercado de trabalho (Tabela 2).
Apenas 4,9% dos meninos e 6,7% das meninas apresentavam o hábito de sucção digital, que não apresentou diferenças estatisticamente significantes na distribuição entre as crianças de ambos os sexos, segundo a variável trabalho materno.

Ocupação dos pais

A ocupação da pessoa que contribui mais efetivamente no orçamento familiar foi classificada segundo oito categorias: proprietários; administradores, gerentes, diretores; profissionais de nível superior; funções de escritório; trabalhadores manuais especializados; trabalhadores manuais semi-especializados; trabalhadores manuais não-qualificados; fora da população economicamente ativa9. Estas categorias foram agrupadas, resultando em três categorias finais: especializada (que englobou as cinco primeiras categorias); semi-especializada (equivalente a trabalhadores manuais semi-especializados); manual (equivalente a trabalhadores manuais não-qualificados). As respostas “fora da população economicamente ativa” não foram consideradas nesta análise.
O hábito de sucção de chupeta apresentou freqüência significantemente menor para os meninos na categoria ocupação paterna especializada que nas categorias semi-especializada e manual, que não diferiram entre si. Para as meninas, houve uma tendência a menor freqüência deste hábito bucal na categoria ocupação paterna especializada (Tabela 3).
O hábito de sucção digital, por sua vez, não apresentou diferenças estatisticamente significantes na distribuição de casos entre as categorias, em ambos os sexos.

DISCUSSÃO

“A sustentação de uma relação causal entre duas variáveis complexas não é tarefa para apenas um estudo. Ao contrário, depende da sistematização dos resultados de muitos estudos epidemiológicos e não-epidemiológicos. Entretanto, se as evidências de um estudo forem avaliadas criteriosamente, poderão apoiar uma interpretação causal de seus achados”11. As evidências de uma associação significativa (p <>
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Recebido para publicação em 13/01/00
Enviado para reformulação em 14/03/00
Aceito para publicação em 28/04/00





† Tese para Obtenção do Título de Doutor em Odontologia na área de Odontopediatria.

* Professora Doutora; *** Professor Titular – Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP.

** Professor, Department of Epidemiology and Public Health, University College London Medical School.

**** Professor Titular do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.

Reimplante mediato de dentes tratados ou não com solução de hipoclorito de sódio a 1% – estudo histomorfométrico em ratos

Pesquisa Odontológica Brasileira

versão impressa ISSN 1517-7491

Pesqui. Odontol. Bras. v.14 n.2 São Paulo abr./jun. 2000

doi: 10.1590/S1517-74912000000200010

Traumatologia

Reimplante mediato de dentes tratados ou não com solução de hipoclorito de sódio a 1% – estudo histomorfométrico em ratos

Effects of sodium hypochlorite on periodontal healing after tooth replantation – histomorphometric study in rats

Cláudia Misue KANNO*
Michel SAAD NETO**
Maria Lúcia Marçal Mazza SUNDFELD***
Marina del Pilar VELASCO-BOHÓRQUES****


KANNO, C. M.; SAAD NETO, M.; SUNDFELD, M. L. M. M., VELASCO-BOHÓRQUES, M. P. Reimplante mediato de dentes tratados ou não com solução de hipoclorito de sódio a 1% – estudo histomorfométrico em ratos. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 151-157, abr./jun. 2000.

Foi avaliada a influência do hipoclorito de sódio a 1% no reparo do periodonto de incisivos reimplantados tardiamente em ratos. Os dentes foram mantidos em meio ambiente durante 30 minutos e a seguir imersos em hipoclorito de sódio a 1%, por 25 minutos. Os animais foram sacrificados aos 10, 30 ou 60 dias. Os cortes histológicos foram obtidos no sentido transversal dos terços cervical, médio e apical e delineados com um aumento de 52 vezes. Os eventos observados sobre a superfície radicular foram medidos quanto a sua extensão através de um sistema analisador de imagens (Mini-Mop, Carl Zeiss). Aos 10 dias, observou-se a predominância de tecido conjuntivo fibroso no grupo tratado. Aos 30 e 60 dias observou-se o aumento da anquilose e reabsorção por substituição, assim como neoformação limitada de ligamento periodontal. No grupo controle, aos 30 e 60 dias, foram observadas áreas de reabsorções mais extensas e profundas, quando comparadas ao grupo tratado. Os resultados possibilitaram as seguintes conclusões quando comparado o grupo tratado com o controle: a) leva à formação de tecido conjuntivo semelhante a uma cápsula fibrosa no período inicial do reparo; b) possibilita uma limitada neoformação de ligamento periodontal; c) ocasiona uma superfície de anquilose mais extensa; d) não impede a reabsorção por substituição.

UNITERMOS: Reimplante dental; Hipoclorito de sódio; Reabsorção da raiz.


INTRODUÇÃO

A principal causa de perda de dentes reimplantados é a reabsorção radicular decorrente da necrose do ligamento periodontal2,11, da contaminação do elemento dental2 e do trauma sobre a superfície radicular. Desta forma, pesquisas têm sido realizadas com o intuito de estabelecer tratamentos que controlem a reabsorção e a subseqüente perda de um dente reimplantado.

O cemento é considerado como a última barreira biológica protetora da dentina, além de possuir substâncias com atividade mitogênica17,22. Pesquisas sobre reimplante dental indicam que a remoção química do ligamento periodontal permite manter o cemento intacto11,19.

A solução de hipoclorito de sódio é conhecida pela sua capacidade germicida e de dissolução de matéria orgânica. Tais características são diretamente proporcionais à concentração da solução9, assim como a sua toxicidade10. A dissolução de tecidos orgânicos é maior nos tempos iniciais de exposição à solução5,15, que é consideravelmente aumentada com trocas contínuas7.

Tendo em vista estas considerações, o propósito do presente trabalho é analisar, em ratos, o reparo do periodonto de incisivos tratados com hipoclorito de sódio a 1% e reimplantados tardiamente.

MATERIAL E MÉTODO

Para a realização do presente trabalho, foram utilizados 24 ratos (Rattus norvegicus, Wistar) machos. O incisivo superior direito de cada animal foi luxado e extraído, mantido em meio ambiente com a face mesial sobre um campo esterilizado, à temperatura aproximada de 22°C, por um período de 30 minutos.

A polpa foi extirpada por via retrógrada, com lima endodôntica nº 15, enquanto o dente era envolto em gaze umedecida com soro fisiológico. Cada dente foi colocado em frasco individual de vidro âmbar, contendo 4 ml de solução de hipoclorito de sódio a 1% (solução de Milton, Merrel Lepetit Farmacêutica Ltda.), pH 12, com trocas a cada cinco minutos. Os dentes dos animais do grupo controle foram imersos em água bidestilada, que também foi trocada a cada cinco minutos. Após 25 minutos, os dentes dos dois grupos foram imersos em água bidestilada, por cinco minutos. Todos os dentes foram irrigados com água bidestilada e seu canais preenchidos com rifamicina (Rifocina M 75 mg, Merrel Lepetit). Em seguida, os dentes foram reimplantados. Em cada animal foi aplicado 1ml de rifamicina, por via intraperitoneal.

Quatro animais de cada grupo foram sacrificados por inalação excessiva de éter sulfúrico, aos 10, 30 ou 60 dias após o reimplante. As hemimaxilas direitas foram fixadas em formol tamponado a 10% por 24 horas, lavadas e descalcificadas em solução de citrato de sódio a 20% e ácido fórmico a 50%, em partes iguais. Os cortes histológicos das peças incluídas em parafina foram obtidos no sentido transversal, dos terços cervical, médio e apical e corados com hematoxilina e eosina.

Para a análise histomorfométrica, um corte histológico representativo de cada terço, de cada dente, foi delineado com um aumento de 52 vezes, com o auxílio de um aparelho projetor de lâminas ao qual foi acoplada uma câmara clara. Em cada desenho foi marcado o limite de cada evento observado sobre a superfície radicular, através da análise do respectivo corte no microscópio de luz. A face do dente que era recoberta por esmalte não foi considerada.

As extensões de cada evento observado sobre as superfícies radiculares foram mensuradas através de um sistema analisador de imagens (Mini-Mop, Carl Zeiss / Fapesp - Processo nº 88/1208-0), programado para medir comprimento e calibrado para fornecer os dados em milímetros, com uma diminuição compensatória de 52 vezes. As partes das superfícies radiculares que sofreram reabsorções foram reconstruídas em seu contorno inicial, antes de serem mensuradas.

Os valores obtidos, em milímetros, foram calculados em proporção, considerando-se como superfície total aquela compreendida entre os dois extremos da face recoberta por esmalte. Os dados em proporção referentes ao ligamento periodontal, reabsorção por substituição e anquilose foram transformados em arco seno e analisados estatisticamente, através de análise de variância, ao nível de significância de 5%.

RESULTADOS

Os valores das médias dos eventos observados sobre a superfície radicular, assim como o resultado da análise estatística, podem ser vistos na Tabela 1.

Pode-se observar o predomínio de tecido conjuntivo fibroso no grupo tratado, aos 10 dias. Este tecido apresentava fibras colágenas paralelas à superfície radicular, de forma semelhante a uma cápsula fibrosa. Em algumas áreas, notadamente proximais, foram observados remanescentes acelulares de fibras periodontais e ausência de reação inflamatória ou de corpo estranho. No grupo controle, no mesmo período, o ligamento periodontal foi o tipo de tecido mais observado.

Aos 30 dias, no grupo tratado, observa-se acentuada diminuição de tecido conjuntivo denso, fibroso e frouxo e um aumento da anquilose alvéolo-dental. O tecido conjuntivo fibroso apresentou-se mais delgado, muitas vezes interposto entre tecido ósseo e dente (anquilose com interposição de células). Algumas áreas limitadas apresentaram tecido conjuntivo com fibras colágenas inseridas perpendicularmente à superfície radicular, com uma camada de células semelhantes a cementoblastos (ligamento periodontal). No grupo controle, comparando-se ao período anterior, observa-se um aumento da ocorrência de reabsorção por substituição, principalmente a reparada. O ligamento periodontal foi observado muitas vezes sobre superfície radicular previamente reabsorvida.

No grupo tratado, aos 60 dias, observa-se predominância de anquilose e reabsorção por substituição reparada (Figura 1). Constatou-se a incorporação de fibras remanescentes de ligamento periodontal ao tecido ósseo em algumas áreas. O ligamento periodontal (Figura 2) pôde ser observado em 3,07% da superfície. No mesmo período, observa-se a manutenção da média do ligamento periodontal (Figura 3) no grupo controle. Comparando-se com o grupo tratado, as reabsorções radiculares foram mais extensas e profundas (Figura 4).

DISCUSSÃO

No grupo tratado, procurou-se compensar a baixa capacidade de dissolução da solução de hipoclorito de sódio na concentração de 1% com trocas a cada cinco minutos7. No entanto, observou-se remanescentes acelulares de ligamento periodontal aos dez dias, que foram calcificados e envolvidos por tecido ósseo nos períodos subseqüentes. Tem sido observado que tecidos necrosados e não contaminados causam pequena ou nenhuma reação inflamatória12, o que parece justificar a não interferência de tais remanescentes no processo de reparo.

Nas áreas em que o ligamento periodontal foi totalmente removido pelo tratamento, foi observada predominância de tecido conjuntivo fibroso, semelhante a uma cápsula fibrosa, que não foi observada em nenhum espécime do grupo controle. Nos períodos mais longos, verificou-se a diminuição progressiva deste tecido, em alguns casos, dando lugar a uma anquilose com interposição de células. Essa disposição de tecido conjuntivo paralela à superfície radicular também foi descrita em trabalhos realizados in vitro23 e in vivo4,18, nos quais não foi realizada desmineralização artificial da superfície radicular. PITARU; MELCHER (1987)20 acreditam que a formação deste tipo de tecido seja um reflexo fenotípico de uma subpopulação específica de fibroblastos.

Em um estudo, dentes de macacos foram mantidos em solução de hipoclorito de sódio a 10%, durante uma hora, previamente ao reimplante11. Os autores verificaram que este tratamento ocasionou áreas de anquilose, sem reabsorções da superfície radicular. Na maioria dos pontos analisados, uma camada amorfa basofílica foi observada de forma intermintente, interposta entre o tecido ósseo e o cemento, que foi atribuída a remanescentes necróticos de osteoblastos e de células circunjacentes ao osso. Os autores observaram ligamento periodontal em 1% do total da superfície radicular. A ausência de reabsorções radiculares descrita por estes autores, ao contrário dos resultados obtidos no presente trabalho, pode ser atribuída às diferenças de metodologia. É possível, porém, que seja uma etapa anterior do reparo após o reimplante dental, tendo em vista que cada animal apresenta tempos diferentes deste processo. A camada amorfa basofílica pode representar um estágio mais tardio do que foi descrito no presente trabalho como anquilose com interposição de células.

A presença de ligamento periodontal, no grupo tratado, aos trinta e sessenta dias, em quantidade estatisticamente maior em relação ao grupo de dez dias, poderia ser justificada pela migração e diferenciação das células progenitoras paravasculares13,14,21. Acreditamos nesta possibilidade, pois o hipoclorito de sódio torna inviáveis para cultivo in vitro, células do ligamento periodontal, após a imersão de raízes na solução a 5%, durante dois minutos24. Desta forma, no processo de reparo no presente trabalho, é improvável a participação das células progenitoras do ligamento periodontal localizado próximo ao cemento.

A maioria dos fatores de crescimento que participam do processo de diferenciação de células progenitoras origina-se de células circunjacentes1,28. Estes dados indicam que, durante o processo de regeneração de um tecido, são importantes todos os seus elementos celulares. A provável ausência da população celular do ligamento periodontal aderido à superfície radicular, assim como os fatores que mantêm a sua diferenciação, podem justificar o fato de que o ligamento periodontal observado no grupo tratado aos trinta e sessenta dias, não tenha apresentado características normais.

Apesar da possibilidade de neoformação de ligamento periodontal, observou-se a predominância de um reparo caracterizado pela formação de tecido ósseo (Gráficos 1 e 2 – anquilose e reabsorção por substituição). Em um estudo foi observada a manifestação fenotípica cementoblástica de células colhidas de tecido ósseo periodontal e cultivadas in vitro14, o que indica o potencial de diferenciação em cementoblastos. No entanto, é possível que a interação de fatores, durante o processo de reparo após o reimplante dental tardio, favoreça a diferenciação das células progenitoras do tecido ósseo em osteoblastos, além do fato de cementoblastos e osteoblastos apresentarem características fenotípicas em comum26,27.

No presente trabalho, foi observado que a reinserção periodontal aos trinta e sessenta dias, geralmente, era precedida por reabsorção da superfície radicular, tanto no grupo controle como no tratado. Essa constatação nos leva a acreditar que proteínas do cemento e dentina16,17,22 podem participar do desenvolvimento do fenótipo cementoblástico em células progenitoras22. Outra possibilidade de liberação dos fatores de crescimento do cemento é a causada pela desmineralização artificial da superfície radicular. Este procedimento confere uma superfície mais favorável à adesão de células in vitro, quando comparada à superfície não desmineralizada3. Sabe-se que o Fator de Crescimento derivado do Cemento (CGF) liga-se aos componentes minerais da raiz22, que parecem “esconder” os fatores quimiotáticos17.

Reimplantes foram realizados em cães, após a manutenção dos dentes com ligamento periodontal com vitalidade em solução de hipoclorito de sódio a 5%, durante uma hora19. Antes do reimplante, os dentes foram imersos em ácido cítrico a 10%, durante um minuto. Este tratamento possibilitou a reinserção de fibras colágenas sobre cemento neoformado. Na análise dos dados deste trabalho, deve-se considerar que a regeneração do periodonto de cães parece ocorrer mesmo em condições adversas6,8. No presente trabalho não se efetuou a imersão do dente em solução ácida, baseados em trabalhos descritos na literatura, que contra-indicam este procedimento em dentes a serem reimplantados com seu ligamento periodontal necrosado25. No entanto, a possibilidade da desmineralização da superfície radicular expor fatores de crescimento presentes no cemento e resultados altamente favoráveis obtidos em estudos prévios19, apesar das diferenças metodológicas, sugerem que o tratamento com ácido em reimplantes de dentes tratados com hipoclorito de sódio deva ser reconsiderado.

A tentativa de um reimplante dental tardio sempre é válida. Embora a anquilose seja um resultado longe do ideal, possibilita a permanência do elemento dental por muitos anos. Contudo, a vitalidade do ligamento periodontal é essencial para a permanência longa do dente reimplantado.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no presente trabalho permitem concluir que o tratamento com hipoclorito de sódio a 1%, previamente ao reimplante dental tardio, em ratos, quando comparado à imersão em água bidestilada:

  • leva à formação de um tecido conjuntivo semelhante a uma cápsula fibrosa no período inicial de reparo;
  • possibilita uma limitada neoformação de ligamento periodontal;
  • ocasiona uma superfície de anquilose mais extensa;
  • não impede a reabsorção por substituição.


KANNO, C. M.; SAAD NETO, M.; SUNDFELD, M. L. M. M.; VELASCO-BOHÓRQUES, M. P. Effects of sodium hypochlorite on periodontal healing after tooth replantation – histomorphometric study in rats. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 151-157, abr./jun. 2000.

The aim of the present study was to examine the influence of 1% sodium hypochlorite on periodontal healing after tooth replantation. Rats incisors were extracted, maintained in the environment during 30 minutes, then immersed in 1% sodium hypochlorite for 30 minutes. In the control group, the teeth were maintained in distilled water. The animals were sacrificed after 10, 30 and 60 days. Transversal slices of the teeth were obtained and histologically processed through the hematoxylin and eosin technique. Slices from the cervical, middle and apical thirds of each tooth were selected for the analysis. The slices were projected and outlined. The tissues observed on the dental surfaces were measured with an image analysing system (Mini-Mop, Carl Zeiss). In the 10-day treated group, the main characteristic observed was a connective tissue arranged parallelly to the root surface, although not attached to it. After 30 and 60 days, the connective tissue was reduced and an increase of ankylosis was observed, as well as replacement resorption. A limited periodontal ligament reattachment was also observed. In the control group, the periodontal ligament was preserved in about 15% to 17% of the root surface after 30 and 60 days, and the resorption areas were deeper than in the treated group. It was concluded that 1% sodium hypochlorite allowed an increase of the ankylosed root surface and a limited periodontal ligament reattachment, but did not avoid replacement resorption.

UNITERMS: Tooth replantation; Sodium hypochlorite; Root resorption.


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Recebido para publicação em 15/12/99
Enviado para reformulação em 22/02/00
Aceito para publicação em 18/04/00

* Professora do Curso de Odontologia de Umuarama da UNIPAR.

** Professor Titular de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial; *** Professora Assistente da Disciplina de Bioestatística; **** Doutora em Odontologia – Faculdade de Odontologia de Araçatuba da UNESP.

Medo, ansiedade e controle relacionados ao tratamento odontológico

Pesquisa Odontológica Brasileira

versão impressa ISSN 1517-7491

Pesqui. Odontol. Bras. v.14 n.2 São Paulo abr./jun. 2000

doi: 10.1590/S1517-74912000000200007

Odontopediatria

Medo, ansiedade e controle relacionados ao tratamento odontológico

Fear, anxiety and control related to dental treatment

Kira Anayansi SINGH*
Antonio Bento Alves de MORAES**
Gláucia Maria BOVI AMBROSANO***


SINGH, K. A.; MORAES, A. B. A. de; BOVI AMBROSANO, G. M. Medo, ansiedade e controle relacionados ao tratamento odontológico. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 131-136, abr./jun. 2000.

Nosso objetivo foi avaliar medo, ansiedade e controle relacionados ao tratamento odontológico. Os sujeitos foram 364 crianças da faixa etária de 7 a 13 anos. Três questionários com questões de múltipla escolha foram aplicados em grupos de 10 crianças. O primeiro questionário destinou-se à avaliação do medo ao tratamento odontológico e outras situações. Foi traduzido e adaptado do “Child’s Fear Survey Schedule”9 e contém 15 itens. O segundo questionário contém 20 itens relacionados as situações potencialmente produtoras de ansiedade. Foi traduzido e adaptado do “State Trait Anxiety Inventory for Children”16. O terceiro questionário contém 40 itens sendo 20 relacionados ao controle percebido e 20 ao controle desejado e foi traduzido e adaptado do “Child Dental Control Assessment”19. Em relação ao medo e ansiedade, a média dos escores foi mais elevada para o sexo feminino do que para o sexo masculino (P <>

UNITERMOS: Medo; Ansiedade; Odontopediatria.


INTRODUÇÃO

O medo é parte do desenvolvimento infantil. Em geral é transitório e não produz grandes perturbações na vida diária da criança. Embora a capacidade de vivenciar o medo, seja uma função biológica inata, respostas de medo a certos objetos e situações são em grande parte adquiridas através da aprendizagem.

Na verdade, as experiências com medos apropriados à idade ajudam a criança a desenvolver habilidades de enfrentamento. No entanto, muitos medos infantis inicialmente normais podem persistir por longos períodos e produzir diversos problemas para a criança e para sua família. Assim pode acontecer em relação ao medo do tratamento odontológico. Esse medo pode ter diversas origens sendo que as mais freqüentes são as experiências vividas pela própria criança no tratamento odontológico. Outras podem ser transmitidas à criança por pessoas diretamente no meio familiar ou mais indiretamente através dos meios de comunicação13,18.

Algumas evidências indicam que o medo do tratamento odontológico começa na infância mas pouco se conhece como esses medos (e os comportamentos de esquiva subseqüentes) se desenvolvem3,12.

A ansiedade, por outro lado, é entendida como uma resposta à situações nas quais a fonte de ameaça ao indivíduo não está bem definida, é ambígua ou não está objetivamente presente11.

Segundo PESSOTTI15 (1978), a ansiedade implica na ocorrência de uma condição aversiva ou penosa, algum grau de incerteza ou dúvida e alguma forma de impotência do organismo em uma dada conjuntura.

Outro fator que muitos pesquisadores consideram de importância é o sentimento de controle uma vez que o desejo de exercer controle sobre o ambiente parece ser uma necessidade básica demonstrada em vários estudos3,19.

LOGAN et al.8 (1991) aponta a falta de controle como um fator de risco para medos diretamente condicionados. O fator controle refere-se a situações em que o indivíduo percebe que tem em seu repertório condutas que podem diminuir ou eliminar um evento aversivo presente. THOMPSON17 (1981) sugeriu que a percepção de controle afeta as respostas de ansiedade. Entretanto, até bem recentemente, as pesquisas não têm apresentado evidências conclusivas sobre como o controle afeta a ansiedade ou o medo.

WEINSTEIN et al.19 (1996) estuda a avaliação do controle da criança no tratamento odontológico, em uma situação específica na qual o autor identifica as estratégias de controle que crianças de idade escolar utilizam quando visitam o dentista. O primeiro estudo foi realizado com 180 crianças e os dados foram obtidos em sala de aula onde foram aplicados três questionários: de medo, de ansiedade e de controle. A análise estatística indicou cinco categorias de respostas: controle mediado pelo dentista, enfrentamento ativo, afastamento cognitivo, tranqüilização e fuga. As categorias que tiveram escores mais altos foram tranqüilização e controle mediado pelo dentista.

Para o segundo estudo foram aplicados os mesmos questionários e foram oferecidos dispositivos sinalizadores para que os sujeitos pudessem exercer controle sobre a situação. A criança apertava um botão na cadeira odontológica que acionava o dispositivo sinalizador, quando estava tudo bem, a cor escolhida deveria ser verde. Quando a criança sentia-se preocupada a cor deveria ser o amarelo e quando ela queria que o dentista interrompesse o tratamento escolhia a cor vermelha. Os resultados indicaram que a idade e a percepção da aversividade dos procedimentos clínicos, são variáveis importantes para o uso da sinalização. Crianças mais novas percebem o sinalizador como um mecanismo de enfrentamento. Crianças mais velhas, não o consideram de grande ajuda. Entretanto, para todas as crianças, o autor sugere que tratamentos invasivos e a percepção da aversividade levam a criança a utilizar o dispositivo sinalizador como forma de fuga.

A etiologia de medos clínicos severos parece estar relacionada à idade e ao condicionamento direto na presença de dor e vulnerabilidade14. O medo do tratamento odontológico torna-se cíclico no sentido de que quando a patologia dentária não é regularmente tratada pelos serviços preventivos ela desencadeia a utilização de serviços odontológicos curativos ou de emergência inerentemente invasivos e dolorosos. Tais tratamentos exacerbam ou produzem medo e comportamento de esquiva a futuros tratamentos.

Esta pesquisa estuda o medo, ansiedade e controle em função do sexo e a faixa etária e parte do pressuposto de que variáveis cognitivas, como a percepção de controle, podem moderar a aversividade do tratamento em crianças.

MATERIAL E MÉTODO

Em 364 crianças (sete a treze anos de idade) de ambos os sexos foram aplicados os questionários de avaliação do medo, ansiedade e controle. Os sujeitos pertenciam a uma escola da periferia de Paulínia, SP e participavam de um programa de atendimento odontológico à comunidade. Aleatoriamente eram formados grupos de 10 alunos que acompanhavam a pesquisadora para outra sala onde era realizada a aplicação dos questionários. O pesquisador lia as questões e as crianças assinalavam suas respostas, caso houvessem dúvidas referentes à compreensão, eram esclarecidas e registradas.

Os instrumentos originais em inglês de medo, ansiedade e controle foram traduzidos e adaptados seguindo-se os seguintes passos: uma pessoa com domínio de ambas as línguas (português e inglês) fez a primeira tradução dos instrumentos para o português; uma segunda pessoa com domínio de ambas as línguas, fez a versão do português para o inglês sem ter acesso aos originais. A pessoa responsável pelo projeto que também domina ambas línguas fez a comparação das traduções e realizou as alterações necessárias. Em seguida os questionários passaram por um controle de qualidade preliminar e posteriormente foram submetidos à avaliação formativa e somativa. O controle de qualidade preliminar consistiu numa revisão do material elaborado, antes de sua primeira aplicação1,4. Neste caso um especialista no conteúdo verificou sua precisão e abrangência e um especialista em avaliação educacional verificou a disposição e formato dos itens de cada instrumento de avaliação.

A avaliação formativa tem como objetivo melhorar e aperfeiçoar o material conduzindo a reformulação quando necessário. Foram selecionados ao acaso quarenta alunos de uma escola pública de Piracicaba, sendo vinte da faixa de oito a nove anos de idade e vinte da faixa de doze a treze e os instrumentos foram aplicados para ambos os grupos.

Após essa a avaliação realizou-se uma alteração no questionário de medo; no segundo instrumento não foi realizada nenhuma alteração e no terceiro instrumento foram eliminadas duas questões. Depois destes procedimentos procedeu-se a avaliação somativa na qual os 364 indivíduos preencheram três instrumentos. O primeiro instrumento destinou-se à avaliação do medo da criança ao tratamento odontológico. Ele foi traduzido e adaptado do “Child’s Fear Survey Schedule”9, e compõe-se de 15 itens relacionados as situações que a criança possa temer, por exemplo, em relação a “dentista”, “médico”, “injeção” etc. Os indivíduos indicaram seu nível de medo numa escala com cinco alternativas de respostas que variava de “nenhum medo” a “um medo intenso”. O segundo instrumento destinou-se à avaliação da ansiedade apresentada pela criança e foi traduzido e adaptado do “State Trait Anxiety Inventory for Children”16. Compunha-se de 20 itens relacionados às situações potencialmente produtoras de ansiedade e pretendia medir de maneira generalizada a ansiedade da criança. Entre os itens pode-se citar “eu me preocupo com os meus pais”, “eu me preocupo com as coisas que possam acontecer” etc. Cada item tinha três alternativas de escolha: “quase nunca”, “algumas vezes” e “freqüentemente”. O terceiro instrumento destinou-se à avaliação da variável controle e foi traduzido e adaptado do “Child Dental Control Assessment”19. Neste aparece, inicialmente, uma série de exercícios que foram realizados com as crianças para facilitar a compreensão e o correto preenchimento da ficha. O instrumento consta de uma lista de 40 itens. Os 20 itens indicados como A referem-se aos eventos que aconteceram na última sessão de tratamento odontológico e procuram identificar a variável “controle percebido”. Entre os itens pode-se citar “na última sessão o dentista me disse o que ia acontecer”, “na última sessão o dentista me disse que tudo daria certo” etc. Os 20 itens indicados como B referem-se ao que a criança deseja que aconteça na próxima sessão e procuram identificar a variável “controle desejado”. Pode-se citar alguns itens: “na próxima sessão eu quero que o dentista responda todas as minhas perguntas”, “na próxima sessão eu quero que o dentista me diga que me comportei bem”.

Para a análise dos dados obtidos após a aplicação dos três instrumentos, utilizou-se estatística descritiva e o teste t de Student.

RESULTADOS

Na Tabela 1 observa-se que para o Instrumento de Avaliação do Medo, a média dos escores foi mais alta para o grupo do sexo feminino com 29,1 do que do sexo masculino que foi 26,6 (P <>12.

Em relação a ansiedade as médias também mostraram-se diferentes em função do sexo, sendo que as meninas tiveram um valor médio mais elevado que os meninos (P <>

Para o controle percebido e desejado os dados não revelaram diferença estatisticamente significantes.

Na Tabela 2 observa-se que o valor médio de medo para o grupo de menor idade foi de 26,3 e para o grupo de maior idade foi 33,3 (P <>

No Instrumento de Avaliação da Ansiedade, a média dos escores foi igual para ambos os grupos, o que revela que a idade não influenciou o grau de ansiedade apresentada pelos sujeitos.

Quanto ao controle percebido, o valor médio foi maior para o grupo de menor idade (24,5) e o grupo de maior idade teve uma média de 17,9 (P <>

No controle desejado, as crianças de menor idade, tiveram um valor médio de 34,5 e no grupo de maior idade as crianças tiveram o valor médio de 25,5 (P <>

Na Tabela 3 observa-se dados de crianças de duas faixas etárias diferentes que receberam ou não anestesia. Em relação ao medo as crianças de 7 a 9 que receberam anestesia tiveram médias mais altas (29,2) do que as que não receberam (25,9) semelhante ao resultado do grupo de 11 a 13 onde as que receberam anestesia tiveram média de 37,6, e as que não receberam, 24,9, o que revela que são em média mais temerosas independentemente da faixa etária.

A ansiedade também revelou diferença sendo para as crianças mais novas as que receberam anestesia tiveram média de 35,5 revelando-se mais ansiosas do que as que não receberam que tiveram média de 33,5. Em relação as crianças maiores as que receberam anestesia tiveram média de 38,9 e as que não receberam tiveram média de 34,9 resultado similar ao anterior, onde as crianças que recebem anestesia são mais ansiosas.

Em relação ao controle percebido e desejado as médias não tiveram diferença significativa entre os grupos avaliados.

As meninas se mostraram mais temerosas que os meninos. A média das meninas e dos meninos que receberam ou não anestesia, revelou diferença significativa, sendo que em relação ao medo, as meninas que receberam anestesia tiveram valor médio de 35,7 significativamente maior que as que não receberam 26,33. Para o sexo masculino, as médias também foram significativamente diferentes sendo que os que receberam anestesia tiveram valor médio de medo de 32,1 e aqueles que não receberam anestesia 25,2.

Em relação a ansiedade, também as meninas se mostraram mais ansiosas que os meninos. Sendo que para o sexo feminino as que receberam anestesia tiveram valor médio de 38,1 e as que não receberam 32,7. Em relação aos meninos, também foram mais ansiosos aqueles que receberam anestesia, isto é, tiveram um valor médio de ansiedade de 36,7 e os que não receberam anestesia foi de 34,1. No controle percebido e desejado os valores encontrados para os grupos que receberam e não receberam anestesia, não foram significativamente diferentes (Tabela 4).

DISCUSSÃO

Os resultados do estudo do medo de crianças em relação ao tratamento odontológico e os fatores de risco encontrados no presente trabalho são semelhantes aos encontrados em outros países como Estados Unidos e Singapura. No que se refere ao “medo odontológico” MILGROM et al.12 (1988), CUTHBERT; MELAMED3 (1982) e KLEINKNECHT et al.5 (1973) revelam que o medo é um problema reconhecido na população e que a maioria dos medos iniciam na infância, principalmente na fase escolar. Esta pesquisa baseada em respostas de 364 crianças da idade escolar (sete a treze anos) mostrou, que a idade e o sexo estão relacionadas com a percepção de medo.

Em relação ao sexo, indivíduos do sexo feminino apresentam escores mais altos do que indivíduos do sexo masculino, sendo semelhante aos resultados obtidos por MILGROM et al.12 (1988) e KLEINKNECHT et al.6 (1973). É interessante salientar o fato de que trabalhos realizados em culturas diferentes mostram resultados semelhantes. Isto sugere que as meninas podem ter maior facilidade para expressar suas emoções. No que se refere à idade observa-se que as crianças mais novas (7 a 9 anos) tiveram um valor médio de 26,3 com relação ao medo, e as crianças mais velhas (11 a 13 anos) tiveram um valor médio de 33,3 o que revela que as crianças mais velhas são, em média, um pouco mais temerosas. Pode-se sugerir que isso acontece com crianças mais velhas, porque estas vivenciaram um maior número de tratamentos odontológicos com a doença instalada e conseqüentemente serviços curativos invasivos e dolorosos. Tais serviços, provocando mais dor, levam a mais medo e ansiedade.

Para todas as crianças avaliadas independentemente da faixa etária e do sexo a ansiedade foi maior para aquelas que receberam anestesia quando comparadas com aquelas que não receberam anestesia. Este fato reafirma a hipótese de que tratamentos odontológicos invasivos sempre aumentam a ansiedade nas crianças.

MILGROM et al.10 (1992) encontraram que adolescentes que tinham recebido tratamento odontológico na presença de dor ou desconforto estavam menos dispostos a retornar ao dentista do que aqueles que não tinham recebido tratamento invasivo ou desconfortável. WEINSTEIN et al.19 (1996) realizaram uma investigação que revelou que pacientes que precisavam de exodontias expressavam maior necessidade de ter controle do que aquelas não iriam realizar esse tipo de tratamento. Em relação à avaliação do controle, CORAH2 (1973), LITT; SHAFER7 (1993), LOGAN et al.8 (1991), MILGROM; WEINSTEIN11 (1985), MILGROM et al.10 (1992), THOMPSON17 (1981) salientam a importância da percepção de controle sobre o ambiente e consideram-no até como uma necessidade básica. A falta de controle como um fator de risco para medos odontológicos diretamente condicionados tem sido identificado por pesquisadores e clínicos8,17. Tem sido demonstrado que o exercício de controle afeta a tensão e o estresse e que a percepção de controle sobre estímulos aversivos reduz a aversividade do evento. Por outro lado, a diminuição do controle aumenta a tensão produzida pela situação estressante10.

Os resultados obtidos no presente trabalho demonstram que em relação ao controle percebido, o valor médio foi maior para o grupo de menor idade (7 a 9 anos), o que revela que as crianças mais novas percebem mais controle do que as mais velhas e têm menos medo; isto sugere que crianças mais velhas podem ter passado por experiências odontológicas prévias muito desagradáveis. Tais crianças percebem menos controle e são em média um pouco mais temerosas. Em relação ao controle desejado o grupo de crianças mais novas também manifestou desejo de maior controle do que o grupo de crianças mais velhas.

Experiências clínicas que utilizaram o controle percebido como uma estratégia efetiva de redução do estresse têm sido bem-sucedidas. Esses resultados sugerem que a percepção de controle possibilita uma melhora na capacidade de enfrentamento dos pacientes odontológicos em situações de medo e/ou ansiedade7.

CONCLUSÕES

1. Crianças com maior controle percebido apresentaram menor medo ao tratamento odontológico.

2. Crianças com experiência anterior de anestesia no tratamento odontológico revelaram-se mais temerosas do que as crianças que tinham feito tratamento sem anestesia.

3. As meninas mostraram-se mais temerosas e ansiosas do que os meninos.

4. Em relação a faixa etária as crianças de sete a nove anos de idade mostraram-se menos temerosas do que as crianças pertencentes a faixa de onze a treze anos.


SINGH, K. A.; MORAES, A. B. A. de; BOVI AMBROSANO, G. M. Fear, anxiety and control related to dental treatment. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 131-136, abr./jun. 2000.

The aim of this study was to test fear, anxiety and control related to dental treatment. The subjects were 364 children with ages between 7 and 13 years. Three questionnaires with multiple choice questions were applied in groups of 10 children. The first instrument was the 15-item dental subscale from the Children’s Fear Survey Schedule9. The subjects rated their level of fear on a 5-point scale. The second survey instrument was the 20-item subscale from the State Trait Anxiety Inventory for Children16. This measure was used to capture how anxious the child was, in general. The third instrument was the Child Dental Control Assessment19. It contained 20 items to assess perceived control and 20 items to assess desired control. The results of the survey indicated that dental fear and anxiety were slightly higher for females when compared with male subjects (P <>

UNITERMS: Fear; Anxiety; Pediatric dentistry.


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Recebido para publicação em 02/01/00
Enviado para reformulação em 22/03/00
Aceito para publicação em 26/04/00

*Aluna do Curso de Pós-Graduação (Doutorado) em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araraquara da UNESP.

** Professor Titular; *** Professora Doutora – Departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da UNICAMP, Bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Escovar os dentes uma vez por dia seria suficiente para prevenir cárie

(Bibliomed). A escovação dos dentes duas vezes ao dia é recomendada pela maioria dos dentistas para melhorar o controle das placas. Esta indicação é seguida por quase todos os pacientes ao cuidarem de sua saúde oral, e mostrou ser efetiva na manutenção da saúde oral em numerosos estudos.

Artigo de revisão publicado na última edição da revista Oral Health & Preventive Dentistry mostra que há um consenso na literatura segundo o qual uma única escovação diária (cuidadosa) dos dentes seria suficiente para preservar a saúde bucal e prevenir a cárie e as doenças periodontais.

A escovação dos dentes é considerada também como um veículo importante para a aplicação de agentes anticárie, tais como fluoretos. Entretanto, a higiene realizada em casa, pela maioria dos pacientes, foi avaliada, e não se mostrou eficiente na remoção da placa.

O estudo da literatura não fornece evidências sobre momento ideal para a limpeza, se antes ou após as refeições. Entretanto, com a finalidade de eliminar o impacto da comida e diminuir a duração da ação de algumas substâncias dos alimentos sobre os dentes, a escovação após as refeições continua sendo a mais recomendada.

Fonte: Oral Health & Preventive Dentistry. 3 (2005), No 3 (07.11.2005) Page 135-140.

Atendimento Odontológico Domiciliar

Cláudio Jorge Campos Fernandes
Curso Especialização odontologia Pacientes Necessidaddes Especiais- UVA
Resumo
A evolução da medicina no último século propiciou melhora no tratamento de vários tipos de enfermidades agudas e crônicas o que conseqüentemente proporcionou melhora na qualidade de vida dos pacientes, além do aumento de sua expectativa de vida. Pacientes que antes eram obrigados a ficar internado em ambiente hospitalar devido a necessidade de apoio tecnológico de suporte para manutenção do seu tratamento, com a evolução da tecnologia e propostas alternativas de terapias, já podem ser atendidos fora desse ambiente.
Participando dessa evolução a odontologia cada vez mais se mostra como peça de grande importância, quando se trata da saúde do paciente utilizando uma equipe multidisciplinar, devido a o entendimento pelos médicos de que uma boa saúde começa e se mantém pela boca.
Palavras-chave: Atendimento domiciliar, home Care.

Introdução
Na saúde,tem ocorrido nos últimos anos, um crescente desenvolvimento tecnológico repercutindo no aumento da expectativa de vida, ampliando a sobrevida em casos antes condenados a óbitos. Neste contexto, encontramos crianças, jovens, adultos e idosos que apresentam doenças de alto risco, malformações congênitas, traumas adquiridos ou de doenças anteriormente incompatíveis com avida, dependentes de artefatos tecnológicos e/ou farmacológicos indispensáveis à sobrevivência.
O atendimento domiciliar constitui um conjunto de ações de saúde voltadas ao atendimento ao indivíduo, à família e a comunidade. È um procedimento educativo e assistencial, além de uma atividade utilizada com intuito de subsidiar a intervenção no processo saúde-doença de indivíduos ou no planejamento de ações visando a promoção da saúde da coletividade.(Barros et al, 2006)
Os termos¨Mobile Dental Care¨ ou ¨Mobile Dentistry¨, compreende o atendimento odontológico preventivo ou curativo, realizado fora de um consultório padrão fixo, direcionado as pessoas que não tem acesso ao atendimento padrão(Fonseca,2008, Barros et al,2006). O equipamento móvel deve ser escolhido para o tipo de intervenção almejada, ocasionando eficiência na intervenção e bem estar físico dos profissionais envolvidos(Fonseca, 2008).
O atendimento odontológico domiciliar ( home care) é um modelo em processo de expansão por todo o Brasil e começou a fazer parte das opções dos cuidadores à medida em que a população se conscientizou da preocupação com relação a saúde, a qualidade de vida e de que muitas manifestações bucais podem estar relacionadas com estado de saúde geral das pessoas(Barros et al,2006)
Com o avanço tecnológico na odontologia, se faz possível realizar um tratamento domiciliar com os parâmetros semelhantes a um consultório, com o auxilio de equipamentos modernos e compactos que apresentam a mesma eficiência que um equipamento convencional. Geralmente a necessidade de um atendimento odontológico domiciliar se dá a pacientes com necessidades especiais seja ele um idoso, pacientes hospitalizados ou pacientes acamados, nos quais ocorre a redução percentual da salivação, levando à diminuição da capacidade protetora na formação da cárie e da doença periodontal. È preocupante em pacientes em uso de suporte respiratório com ventilação mecânica e em pacientes neurológicos que apresentam dificuldade à deglutição.(Haddad,2007). A ida ao consultório odontológico por estes pacientes em 60% dos casos o acesso é dificultado por barreiras físicas e o tempo na sala de espera é citado como problemático para os familiares(Fonseca,2008).
Na odontologia o paciente com necessidades especiais é o indivíduo que apresenta determinados desvios dos padrões de normalidade, sendo eles identificáveis ou não, que necessitam de uma atenção, abordagem e atendimento especial, diferenciado por um período de sua vida ou por toda vida(Mugayar,2000). Segundo Van Liemp: ¨O paciente especial é uma unidade muito complexa: sua deficiência afeta determinados setores dessa unidade, repercutindo em outros, e consequentemente na unidade como um todo¨.
A classificação desse grupo é de acordo com a alteração que o mesmo apresenta: deficiência mental, física, síndromes e deformidades craniofaciais, distúrbios comportamentais, sensoriais, transtorno psiquiátrico, doenças sistêmicas crônicas, infectocontagiosas e condições sistêmicas comprometidas e englobam também crianças com dependência tecnológica.
Muitas manifestações bucais estão intimamente relacionada com suas condições sistêmicas, o que se torna de extrema importância um cuidado com sua saúde bucal contribuindo para o tratamento de muitas malformações congênitas corrigidas cirurgicamente ou tratadas clinicamente. O descuido com a higiene bucal influenciam negativamente no prognostico das intervenções cirúrgicas e na progressão dos distúrbios.
Equipe Multidisciplinar
O atendimento domiciliar, inicialmente era realizado por um único profissional da saúde que assumia a total assistência ao paciente. Atualmente a formação de uma equipe multidisciplinar, atua conjuntamente compartilhando a assistência e as responsabilidades do tratamento à este paciente, a fim de que seja possível a reabilitação: social, emocional, intelectual e física(Dias et al,2006, Elias,2008). Para esta reabilitação ocorrer se faz necessário a atuação de especialistas, que com o conhecimento específico em sua área, trocam informações em prol da saúde do paciente, oferecendo prevenção de problemas de de saúde ou de assistência para as doenças já instaladas( Elias,2008). Estes profissionais devem apresentar uma estrutura física e psíquica que propicie o trabalho móvel apresentando uma atitude humanitária e social, interagindo com os familiares e entre si mesmo( Barros et al,2006).
O cirurgião dentista faz parte da equipe interdisciplinar, responsável pela saúde bucal do paciente, a qual é apontada por determinadas repercussões orgânicas, requerendo maiores cuidados. É sabido que esses pacientes por apresentarem níveis baixos de resistência, são sujeitos a disseminação de infecções decorrentes de suas más condições bucais, sendo importante o trabalho preventivo-educacional que o cirurgião dentista vai realizar, ministrando ensinamentos aos cuidadores deste paciente(Fonseca, 2008).
As especialidades ou áreas mais atuantes na equipe interdisciplinar com o cirurgião dentista são: Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia ocupacional, Assistência Social, Enfermagem, Medicina e suas especialidades.
O conceito de saúde bucal emitido durante a ll Conferência Nacional de Saúde Bucal em 1993, diz que: ¨saúde bucal é parte integrante da saúde geral do indivíduo e está relacionada com as condições de saneamento básico, alimentação, moradia, trabalho, lazer, liberdade, acesso a posse de terra, aos serviços de saúde e a informação¨(NARVAI & FRAZÃO, 2005).
Os conceitos contemporâneos de saúde sugerem que a saúde pode ser definida em termos físicos, psicológicos e de bem-estar social em relação ao seu estado bucal( WHO,2007). Portanto, saúde bucal se refere ao ato do indivíduo exercer funções como mastigação, deglutição e fonação, apresentando uma estética adequada que permite o relacionamento social sem constrangimento exercendo sua auto-estima(NARVAI & FRAZÃO, 2005).
Uma boa saúde bucal é essencial para qualquer indivíduo, especialmente aquele paciente que apresenta uma saúde geral comprometida agravada pelas doenças crônicas( Benatti e Montenegro, 2008), ou pacientes que apresentam seqüelas com perda parcial ou total da autonomia e independência ( Pascoal, 1999), apresentando dificuldades nas atividades diárias e necessitando de ajuda de responsáveis ou cuidadores ( Dias, 2006).
É importante que esses pacientes tenham um cuidado odontológico regular para assegurar uma melhor qualidade de vida e dependendo do estágio da doença o tratamento pode ser invasivo ou paliativo. O cirurgião-dentista deve realizar uma abordagem que se adapte ao tipo de paciente, para melhorar a convivência com o mesmo, visando aliviar sintomas e auxiliando a familia a compreender o curso da doença e o que esperar do paciente. Deve-se realizar uma detalhada anamnese e um minucioso exame clínico para avaliação da saúde bucal ( Elias, 2008). Disfunções orais como refluxo de sucção e movimentos involuntários, podem dificultar o exame e a higiene bucal. No exame estomatológico, deve-se verificar as condições periodontais, pois é comum nestes pacientes o acúmulo de placa favorecendo o aparecimento de gengivites e periodontites( Elias, 2008).
Os medicamentos utilizados por crianças influenciam a saúde oral, por serem de consistência viscosa e adocicados, ocasionando o aparecimento de cárie; de hiperplasia gengival, ocasionada pelo uso de anticonvulsivante à base de hidantoínato; e os sedativos que diminuem o fluxo salivar ( Andrade, 2007).
Na literatura é relatado que uma saúde bucal insatisfatória pode ser um fator de risco para infecções do trata respiratório inferior, especialmente em pacientes que apresentaram acidente vascular cerebral ( Sumi et al,2002). Para Scannapleco (2001), o acúmulo de patógenos bucais associados à doença periodontal pode aumentar o risco de infecções do trato respiratório em indivíduos susceptíveis. A presença de xerostomia nos pacientes que utilizam medicamentos para controle das doenças crônicas, favorece o crescimento de microorganismos e da placa bacteriana ( Conh e Fulton, 2006). A fim de evitar o agravamento das condições respiratórias, especialmente nos pacientes acamados, o CD deve orientar os familiares e cuidadores na realização de uma adequada higiene bucal e procedimentos de biossegurança, informando ensinamentos sobre escovação, suporte para fio dental, escovas elétricas, jatos intermitentes de água e escovas interdentais(Elias, 2008). Este procedimento básico de higiene pessoal não deve ser negligenciado, pois a ausência ou deficiência de atos mecânicos, possibilita o acúmulo de placa mais espessa, desequilibrando a microbiota bucal e levando a destruição de tecidos moles e duros( Cury, 1999). Esta conduta também tem o objetivo, nos estados iniciais da doença, de produzir condições de saúde bucal estável permitindo o mínimo de problemas quando nos estágios mais avançados da doença, em que o tratamento odontológico se torna impossível. Nos pacientes em estágio mais avançado da doença é recomendável o uso de gaze envolta no dedo indicador, o emprego do flúor para prevenir o desenvolvimento de cárie, escovas pequenas, spray de clorexidina e dieta não cariogênica( Elias, 2008).
A presença do profissional no domicilio o faz ter o conhecimento das condições de habitação, higiene e hábitos de vida, podendo realizar educação em saúde para o paciente e sua família. O planejamento e a execução dos cuidados necessários à promoção de saúde é compartilhada pelo paciente e sua familia, já que neste ambiente menos formal é melhor o relacionamento e com isso a exposição dos problemas e dificuldades no trata bucal do paciente pela familia ou cuidador ( Barros et al,2006).
Considerações Finais
O cirurgião dentista deve confeccionar um formulário de consentimento que transcreva o estado geral e aspecto da cavidade bucal do paciente, o tratamento proposto e as possíveis restrições da odontologia para com o paciente. Tudo deve sre esclarecido, conscientizado e aprovado pelo responsável ou cuidador.
O atendimento domiciliar diminui os riscos de infecções, permite que o paciente mantenha um contato afetivo com a sua família participando do seu cotidiano. Desta maneira traz um resultado positivo para o paciente, pois desta forma ele consegue ter acesso aos serviços prestados pela odontologia tradicional. Este tratamento humanizado, além da maior orientação aos pacientes e sua família quanto a manutenção e promoção de saúde bucal, garante melhor qualidade de vida para este paciente.








Referencias
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10- Haddad AS. Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. São Paulo:Livraria Santos LTDA; 2007. p.703-708.
11- Mugayar, LRF. Pacientes portadores de necessidades especiais. 1ª Ed. São Paulo, Pancast. 2000.
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