Páginas

25 maio 2010

Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares†

Pesquisa Odontológica Brasileira
versão impressa ISSN 1517-7491
Pesqui. Odontol. Bras. v.14 n.2 São Paulo abr./jun. 2000
doi: 10.1590/S1517-74912000000200013

Odontologia Social

Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares†

The relationship between socioeconomic determinants and oral habits as risk factors for malocclusion in preschool children



Nilce Emy TOMITA*
Aubrey SHEIHAM**
Vitoriano Truvijo BIJELLA***
Laércio Joel FRANCO****

TOMITA, N. E.; SHEIHAM, A.; BIJELLA, V. T.; FRANCO, L. J. Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais de risco para más-oclusões em pré-escolares. Pesq Odont Bras, v. 14, n. 2, p. 169-175, abr./jun. 2000.

Tendo por objetivo avaliar como determinantes socioeconômicos afetam a prevalência de hábitos bucais deletérios em pré-escolares, este estudo transversal foi desenvolvido. O inquérito epidemiológico foi realizado no período de outubro de 1994 a dezembro de 1995. A amostra probabilística foi constituída por 2.139 crianças, de ambos os sexos, na faixa etária de 3 a 5 anos, matriculadas em instituições públicas ou privadas do município de Bauru - SP - Brasil. Uma subamostra de 618 crianças apresentou resposta ao questionário socioeconômico. A partir da hipótese que determinantes socioeconômicos afetam o estado emocional da criança e isto se manifesta através de hábitos bucais, como sucção de chupeta e sucção digital, foram realizadas análises bivariadas envolvendo as respostas ao questionário socieconômico e algumas variáveis de exposição. Alguns determinantes socioeconômicos, como o trabalho materno e ocupação da pessoa de maior renda no domicílio estão relacionados com a maior prevalência de hábitos bucais (p < p =" 0,8" a =" 0,95," d =" 1,5" n =" 9.418,"> R$ 1.500) e avaliada quanto à sua associação com os principais hábitos bucais: sucção de chupeta e sucção digital.

O hábito de sucção de chupeta apresentou tendência a ser mais freqüente entre as crianças de renda familiar mais baixa, para o sexo masculino e feminino, decrescendo com o incremento da renda. As diferenças não apresentaram significância estatística. A freqüência de sucção digital entre as crianças de ambos os sexos foi bastante baixa, sem influência do estrato de renda familiar.

Escolaridade materna

As respostas à questão escolaridade materna foram categorizadas em: 1º grau incompleto, 2º grau incompleto ou completo e universitário.

A freqüência de crianças que apresentam o hábito de sucção de chupeta apresentou tendência decrescente com o incremento da escolaridade materna, para o sexo masculino e para o feminino. Em ambos os casos, as diferenças não tiveram significância estatística.

O hábito de sucção digital não apresentou relação com o nível de escolaridade das mães entrevistadas. A freqüência de crianças com o hábito de sucção digital não apresentou diferenças estatisticamente entre os grupos, em ambos os sexos.

Trabalho materno

As respostas à questão se as mães trabalharam nos 12 meses anteriores ao questionário foram agrupadas em três categorias – sim, não ou outra situação. Esta última abrangeu a condição de estudante, trabalho eventual ou trabalho remunerado, realizado em casa.

O uso de chupeta não diferiu significantemente entre grupos, para o sexo masculino. Para o sexo feminino, no entanto, a freqüência de crianças com este hábito foi significantemente maior para aquelas cujas mães estão inseridas no mercado de trabalho (Tabela 2).
Apenas 4,9% dos meninos e 6,7% das meninas apresentavam o hábito de sucção digital, que não apresentou diferenças estatisticamente significantes na distribuição entre as crianças de ambos os sexos, segundo a variável trabalho materno.

Ocupação dos pais

A ocupação da pessoa que contribui mais efetivamente no orçamento familiar foi classificada segundo oito categorias: proprietários; administradores, gerentes, diretores; profissionais de nível superior; funções de escritório; trabalhadores manuais especializados; trabalhadores manuais semi-especializados; trabalhadores manuais não-qualificados; fora da população economicamente ativa9. Estas categorias foram agrupadas, resultando em três categorias finais: especializada (que englobou as cinco primeiras categorias); semi-especializada (equivalente a trabalhadores manuais semi-especializados); manual (equivalente a trabalhadores manuais não-qualificados). As respostas “fora da população economicamente ativa” não foram consideradas nesta análise.
O hábito de sucção de chupeta apresentou freqüência significantemente menor para os meninos na categoria ocupação paterna especializada que nas categorias semi-especializada e manual, que não diferiram entre si. Para as meninas, houve uma tendência a menor freqüência deste hábito bucal na categoria ocupação paterna especializada (Tabela 3).
O hábito de sucção digital, por sua vez, não apresentou diferenças estatisticamente significantes na distribuição de casos entre as categorias, em ambos os sexos.

DISCUSSÃO

“A sustentação de uma relação causal entre duas variáveis complexas não é tarefa para apenas um estudo. Ao contrário, depende da sistematização dos resultados de muitos estudos epidemiológicos e não-epidemiológicos. Entretanto, se as evidências de um estudo forem avaliadas criteriosamente, poderão apoiar uma interpretação causal de seus achados”11. As evidências de uma associação significativa (p <>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ADAIR, S. M.; MILANO, M.; DUSHKU, J. C. Evaluation of the effects of orthodontic pacifiers on the primary dentitions of 24- to 59-month-old children: preliminary study. Pediatr Dent, v. 14, n. 1, p. 13-18, Jan./Feb. 1992.

2. BARROS, F. C.; VICTORA, C. G. Epidemiologia da saúde infantil: um manual para diagnósticos comunitários. São Paulo : HUCITEC/UNICEF, 1991.

3. CALISTI, L.; COHEN, M. M.; FALES, M. H. Correlation between malocclusion, oral habits, and socio-economic levels of preschool children. J Dent Res, v. 39, n. 3, p. 450-454, May/June 1960.

4. CASTELLANI, G.; BERTELE, G. P.; ZERMAN, N. Indagine epidemiologica nelle scuole materne del Comune di Verona sull’incidenza della carie, delle malocclusioni e delle abitudini viziate che possono influire sul normale sviluppo delle strutture scheletriche facciali del bambino. Minerva Stomatol, v. 36, n. 3, p. 121-125, Mar. 1987.

5. CERNY, R. Thumb and finger sucking. Aust Dent J, v. 26, n. 3, p. 167-171, June 1981.

6. CHAVES, M. M. Problemas. In: __________. Odontologia social. 3. ed. Rio de Janeiro : Artes Médicas, 1986. Cap. 2, p. 23-98.

7. COCHRAN, W. G. Sampling techniques. New York : John Wiley & Sons, 1977.

8. CORREIA, L. L.; MCAULIFFE, J. F. Saúde materno-infantil. In: ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. 4. ed. Rio de Janeiro : MEDSI, 1994. Cap. 11, p. 315-342.

9. DE VIS, H.; DE BOEVER, J. A.; VAN CAUWENBERGHE, P. Epidemiologic survey of functional conditions of the masticatory system in Belgian children aged 3-6 years. Community Dent Oral Epidemiol, v. 12, n. 3, p. 203-207, June 1984.

10. DEAN A. G.; DEAN, J. A.; BURTON, A. H. et al. Epi Info, Version 5: a word processing, database, and statistics program for epidemiology on micro-computers. [computer program]. Atlanta : Centers for Disease Control, 1990.

11. FACCHINI, L. A. Trabalho materno e ganho de peso infantil. Pelotas : UFPel, 1995.

12. FREITAS J. A. de S.; LOPES, E. S.; ALVARES, L. C. et al. Variabilidade das fases de formação e erupção dos dentes permanentes. Ortodontia, v. 23, n. 2, p. 29-38, 1990.

13. INFANTE, P. F. An epidemiologic study of finger habits in preschool children as related to malocclusion, socioeconomic status, race, sex and size of community. J Dent Child, v. 43, p. 33-38, Jan./Feb. 1976.

14. KEROSUO, H. Occlusion in the primary and early mixed dentitions in a group of Tanzanian and Finnish children. J Dent Child, v. 57, n. 4, p. 293-298, July/Aug. 1990.

15. KISLING, E.; KREBS, G. Patterns of occlusion in 3-year-old Dannish children. Community Dent Oral Epidemiol, v. 4, p. 152-159, 1976.

16. KLEIN, E. T. The thumb-sucking habit: meaningful or empty? Am J Orthodont, v. 59, n. 3, p. 283-289, Mar. 1971.

17. MARTINEZ, N. P.; HUNCKLER Jr., R. J. Managing digital habits in children. Comp Contin Educ Dent, v. 6, n. 3, p. 188-197, Mar. 1985.

18. MASSLER, M. Oral habits: development and management. J Pedod, v. 7, n. 2, p.109-119, Winter 1983.

19. MONTEIRO, C. A. Saúde e nutrição das crianças de São Paulo. São Paulo : HUCITEC/EDUSP, 1988.

20. NANDA, R. S.; KHAN, I.; ANAND, R. Effect of oral habits on the occlusion in preschool children. J Dent Child, v. 39, p. 449-452, Nov./Dec. 1972.

21. OGAARD, B.; LARSSON, E.; LINDSTEN, R. The effect of sucking habits, cohort, sex, intercanine arch widths, and breast or bottle feeding on posterior crossbite in Norwegian and Swedish 3-year-old children. Am J Orthod Dentofacial Orthop, v. 106, n. 2, p. 161-166, Aug. 1994.

22. OLIVEIRA, S. F. Oclusão e hábitos de sucção: estudo em pré-escolares de Piracicaba. Piracicaba, 1981. 61 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.

23. POPOVICH, F.; THOMPSON, G. W. Thumb and finger-sucking: its relation to malocclusion. Am J Orthodont, v. 63, n. 2, p. 148-155, Feb. 1973.

24. SCHLOMER, R. Influence of thumb sucking and pacifiers on deciduous teeth. Fortschr Kieferorthop, v. 45, n. 2, p. 141-148, Apr. 1984. /Abstract/

25. SCHNEIDER, P. E.; PETERSON, J. Oral habits: considerations in management. Pediatr Clin North Am, v. 29, n. 3, p. 523-546, June 1982.

26. SIEGEL, S. Estadística no parametrica. Mexico : Ed. Trillas, 1975.

27. SILVA FILHO, O. G. da; OKADA, T.; SANTOS, S. D. dos. Sucção digital: abordagem multi-disciplinar: Ortodontia x Psicologia x Fonoaudiologia. Estomat Cult, v. 16, n. 2, p. 44-52, 1986.

28. SUBTELNY, J. D.; SUBTELNY, J. D. Oral habits – studies in form, function and therapy. Angle Orthod, v. 43, n. 4, p. 347-383, Oct. 1973.

29. TOMITA, N. E. Relação entre determinantes socioeconômicos e hábitos bucais: influência na oclusão de pré-escolares de Bauru - SP - Brasil. Bauru, 1996. 246 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.

30. ZADIK, D.; STERN, N.; LITNER, M. Thumb and pacifier sucking habits. Amer J Orthod, v. 71, n. 3, p. 197-201, Feb. 1977.



Recebido para publicação em 13/01/00
Enviado para reformulação em 14/03/00
Aceito para publicação em 28/04/00





† Tese para Obtenção do Título de Doutor em Odontologia na área de Odontopediatria.

* Professora Doutora; *** Professor Titular – Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP.

** Professor, Department of Epidemiology and Public Health, University College London Medical School.

**** Professor Titular do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.

Nenhum comentário: