Fluoride release and uptake by glass ionomer cements
Fábia Danielle Sales Cunha Medeiros e SilvaI,*; Rosângela Marques DuarteI; Fábio Correia SampaioII
IUniversidade
Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de
Odontologia, Departamento de Odontologia Restauradora. Cidade
Universitária, 58059-900, João Pessoa, PB, Brasil
IIUniversidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de Odontologia, Departamento de Clínica e Odontologia Social. João Pessoa, PB, Brasil
IIUniversidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de Odontologia, Departamento de Clínica e Odontologia Social. João Pessoa, PB, Brasil
RESUMO
OBJETIVO:
Avaliar a liberação de flúor de seis cimentos de ionômero de vidro
convencional e dois modificados por resina antes e após a recarga com
fluoreto de sódio neutro a 2%. Uma resina composta foi usada como
grupo-controle.
MÉTODOS: Cinco amostras de cada material foram confeccionadas, utilizando-se uma matriz de teflon, e posteriormente imersas em 5,0 ml de água deionizada. Nos dias 1, 2, 3, 5, 7 e 14 foram realizadas aferições em eletrodo específico para determinação da quantidade de flúor liberado. No 15º dia, as amostras foram submetidas à aplicação tópica de gel de fluoreto de sódio neutro a 2% durante 4 minutos e em seguida foram lavadas, secas e novamente imersas em 5,0 ml de água deionizada. Aferições da liberação de flúor foram realizadas nos dias 1, 2, 7 e 14 após a recarga.
RESULTADOS: Os dados, submetidos à análise de variância e aos testes de Tukey e de Student (p<0 a="a" antes="antes" ap="ap" as="as" com="com" de="de" diferen="diferen" e="e" entre="entre" estat="estat" fl="fl" foram="foram" inicial="inicial" libera="libera" maior="maior" materiais="materiais" maxxion="maxxion" mostraram="mostraram" o="o" or="or" os="os" r="r" recarga.="recarga." s="s" significativas="significativas" sticas="sticas"> Vidrion R> Vitro Fil> Vitro Molar> Vitro Fil LC> Riva Self Cure> Vitremer> Ketac Molar> Z-250. Após a aplicação tópica de flúor, todos os materiais foram capazes de apresentar recarga de flúor.
CONCLUSÃO: Concluiu-se que cimentos de ionômero de vidro são capazes de liberar flúor em água deionizada e podem recarregar flúor através de uma aplicação tópica de fluoreto de sódio neutro a 2%.0>
MÉTODOS: Cinco amostras de cada material foram confeccionadas, utilizando-se uma matriz de teflon, e posteriormente imersas em 5,0 ml de água deionizada. Nos dias 1, 2, 3, 5, 7 e 14 foram realizadas aferições em eletrodo específico para determinação da quantidade de flúor liberado. No 15º dia, as amostras foram submetidas à aplicação tópica de gel de fluoreto de sódio neutro a 2% durante 4 minutos e em seguida foram lavadas, secas e novamente imersas em 5,0 ml de água deionizada. Aferições da liberação de flúor foram realizadas nos dias 1, 2, 7 e 14 após a recarga.
RESULTADOS: Os dados, submetidos à análise de variância e aos testes de Tukey e de Student (p<0 a="a" antes="antes" ap="ap" as="as" com="com" de="de" diferen="diferen" e="e" entre="entre" estat="estat" fl="fl" foram="foram" inicial="inicial" libera="libera" maior="maior" materiais="materiais" maxxion="maxxion" mostraram="mostraram" o="o" or="or" os="os" r="r" recarga.="recarga." s="s" significativas="significativas" sticas="sticas"> Vidrion R> Vitro Fil> Vitro Molar> Vitro Fil LC> Riva Self Cure> Vitremer> Ketac Molar> Z-250. Após a aplicação tópica de flúor, todos os materiais foram capazes de apresentar recarga de flúor.
CONCLUSÃO: Concluiu-se que cimentos de ionômero de vidro são capazes de liberar flúor em água deionizada e podem recarregar flúor através de uma aplicação tópica de fluoreto de sódio neutro a 2%.0>
Termos de indexação: Cimentos dentários. Cimentos de ionômeros de vidro. Materiais dentários.
ABSTRACT
OBJECTIVE:
Evaluated the fluoride released from six conventional and two
resin-modified glass ionomer cements before and after a topical
application of a 2% neutral sodium fluoride gel. A composite resin was
used as control.
METHODS: Five specimens of each material were prepared by the use of a Teflon matrix and immersed in 5.0 ml of deionized water. On days 1,2,3,4,5,6,7 and 14, a specific electrode was used to determine the amount of fluoride released. On day 15, a 2% neutral sodium fluoride gel was applied topically on the specimens for 4 minutes. The specimens were then rinsed, dried and again immersed in 5.0 ml of deionized water. The mount of fluoride released was measured 1, 2 7 and 14 days after fluoride uptake.
RESULTS: Analysis of variance, the Tukey's test and the Student's t-test (p<0 .05=".05" after="after" amounts="amounts" and="and" before="before" between="between" differences="differences" fluoride="fluoride" greatest="greatest" initially="initially" materials="materials" maxxion="maxxion" of="of" r="r" released="released" revealed="revealed" significant="significant" that="that" the="the" uptake.="uptake." were="were"> Vidrion R> Vitro FIL> Vitro Molar> Vitro Fil LC> Riva Self Cure > Vitremer> Ketac Molar> Z-250. All materials were capable of absorbing fluoride.
CONCLUSION: Glass ionomer cements are capable of releasing fluoride in deionized water and absorbing fluoride from a topical application of a 2% neutral sodium fluoride gel. 0>
METHODS: Five specimens of each material were prepared by the use of a Teflon matrix and immersed in 5.0 ml of deionized water. On days 1,2,3,4,5,6,7 and 14, a specific electrode was used to determine the amount of fluoride released. On day 15, a 2% neutral sodium fluoride gel was applied topically on the specimens for 4 minutes. The specimens were then rinsed, dried and again immersed in 5.0 ml of deionized water. The mount of fluoride released was measured 1, 2 7 and 14 days after fluoride uptake.
RESULTS: Analysis of variance, the Tukey's test and the Student's t-test (p<0 .05=".05" after="after" amounts="amounts" and="and" before="before" between="between" differences="differences" fluoride="fluoride" greatest="greatest" initially="initially" materials="materials" maxxion="maxxion" of="of" r="r" released="released" revealed="revealed" significant="significant" that="that" the="the" uptake.="uptake." were="were"> Vidrion R> Vitro FIL> Vitro Molar> Vitro Fil LC> Riva Self Cure > Vitremer> Ketac Molar> Z-250. All materials were capable of absorbing fluoride.
CONCLUSION: Glass ionomer cements are capable of releasing fluoride in deionized water and absorbing fluoride from a topical application of a 2% neutral sodium fluoride gel. 0>
Indexing terms: Dental cements. Glass ionomer cements. Dental materials.
INTRODUÇÃO
Estudos
sobre a influência do flúor na prevenção da cárie dentária marcaram as
últimas décadas. Após um longo período em que produtos contendo flúor em
altas concentrações eram recomendados como o método mais eficiente, os
conceitos referentes à ação anticariogênica têm demonstrado, no entanto,
que o flúor ministrado em concentrações baixas, mas constantes no meio
bucal por longos períodos, tem se mostrado mais eficiente1-4.
A
presença do flúor na cavidade bucal, exercendo influência sobre a
adequação do meio, e, mais particularmente o seu contato na interface
dente/restauração, é de grande importância na prevenção da
desmineralização e na promoção da remineralização do esmalte e da
dentina expostos ao desafio ácido. Adicionalmente, o flúor atua
aumentando a longevidade dos tratamentos restauradores quando associado a
outros fatores como cuidados do paciente, habilidade do profissional e
características inerentes ao material restaurador1,4-5. O
fornecimento do íon flúor pode ocorrer através da água de abastecimento,
aplicações tópicas de géis, soluções para bochechos, dentifrícios
fluoretados e materiais odontológicos, tais como os cimentos de ionômero
de vidro6-7.
A
deficiência do selamento marginal e a ausência de liberação de flúor
pelos materiais têm sido relatadas como possíveis responsáveis pelo
desenvolvimento de lesões de cáries recorrentes que podem rapidamente
afetar a integridade das restaurações e, por conseguinte, a longevidade
do procedimento restaurador5.
A
frequência constante de íons flúor na cavidade oral é importante quando
em pequenas concentrações (abaixo de 0,5 ppm), ressaltando a utilização
de materiais odontológicos que apresentam essa propriedade8-9. Por outro lado, a concentração mínima para o efeito inibitório da cárie dentária ainda não está bem estabelecida2, 10-11.
Muitos
estudos surgiram na tentativa de desenvolver materiais dentários com
propriedades físicas, mecânicas e biológicas adequadas, incluindo a
liberação de flúor e a adesividade à estrutura dental compatíveis com o
meio bucal3, encorajando fabricantes a promover
aperfeiçoamentos nesses materiais, além da incorporação do flúor como os
compômeros e as resinas compostas1-2.
O
termo cimento de ionômero de vidro tem sido, tradicionalmente, aplicado
ao grupo de materiais que tomam presa a partir de uma reação ácido-base
entre o vidro degradável e o ácido polialcenóico. Inicialmente, o
fluoreto encontra-se na partícula de vidro, mas durante a formação do
cimento, os íons flúor são liberados na fase aquosa ácida e se tornam
presos à matriz de gel. A presença do flúor no cimento que tomou presa é
responsável pela continuada liberação de flúor4,12-14.
Os
cimentos de ionômero de vidro convencionais são caracterizados por uma
reação química e por apresentarem propriedades como adesão ao substrato
dental e liberação de flúor. O surgimento no mercado dos cimentos de
ionômero de vidro modificados por componentes resinosos, como o HEMA ou
BIS-GMA, ampliou as indicações destes materiais. Estes cimentos, além da
reação ácido-base (reação química), são ativados por luz, e apresentam
vantagens em relação aos convencionais como menor solubilidade, maior
resistência ao desgaste, estabilidade de cor e durabilidade7-8,14-18.
Adicionalmente, nos últimos anos, houve o desenvolvimento de cimentos
de ionômero de vidro convencionais (pois são quimicamente ativados) de
alta viscosidade indicados para técnica de ART, desenvolvidos no intuito
de acelerar a reação de presa e melhorar propriedades de manipulação e
mecânicas.
A liberação
de flúor por cimentos de ionômero de vidro convencional, cimentos de
ionômero de vidro modificados por resina e cimentos de ionômero de vidro
convencionais de alta viscosidade, têm sido demonstrada em vários
estudos, entretanto, o processo de liberação de flúor é complexo e ainda
não foi completamente definido, sendo afetado por inúmeras variáveis,
incluindo composição do cimento; proporção de pó e líquido; método de
manipulação do material; quantidade de flúor disponível para a
liberação; pH do ambiente de estocagem e o tipo de material protetor
utilizado6,10,12,14,17-19.
Os
cimentos de ionômero de vidro podem recarregar e re-liberar flúor para o
ambiente oral como um meio de substituir o flúor que foi liberado. Esta
recarga de flúor pelos materiais pode contribuir, em longo prazo, no
efeito inibitório da recidiva de cárie, pois o flúor recarregado é
novamente liberado, contribuindo assim para sua manutenção no meio oral2,4,7,11,15,20-21.
Portanto,
estudos da liberação de flúor pelos cimentos de ionômero de vidro
convencional e modificados por resina, antes e após a recarga, são de
grande importância na avaliação do potencial preventivo destes
materiais.
MÉTODOS
Os materiais utilizados para realização deste estudo encontram-se no Quadro 1, com seus respectivos fabricantes e lotes.
Foram
confeccionados cinco corpos de cada um dos oito cimentos de ionômero de
vidro e da resina composta, totalizando 45 corpos-de-prova, os quais
foram distribuídos individualmente e armazenados em 5,0 ml de água
destilada/ deionizada.
Para
a confecção dos corpos-de-prova, foi utilizada uma matriz de Teflon de
forma circular com 10,0 mm de diâmetro e 2,0 mm de espessura. Os
cimentos de ionômero de vidro foram manipulados seguindo as
recomendações dos fabricantes, em ambiente laboratorial onde a
temperatura era mantida a 26 ± 10 C.
A
manipulação dos cimentos de ionômero de vidro convencional e de alta
viscosidade foi realizada sobre placas de vidro resfriadas e,
imediatamente após a inserção do material, adaptava-se um pedaço de fio
dental para auxiliar na suspensão do corpo-de-prova, uma tira de
poliéster e uma lâmina de vidro sobre a matriz, exercendo pressão
manual, firme e constante durante 2 minutos para extravasamento do
excesso de material e obtenção de superfície lisa e regular do
corpo-de-prova.
Os
cimentos de ionômero de vidro modificados por resina Vitremer (3M ESPE,
St. Paul, EUA) e Vitro Fil LC (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) foram também
manipulados de acordo com as instruções do fabricante e posteriormente
inseridos na matriz através do uso da seringa Centrix (DFL, Rio de
Janeiro, Brasil.), fotopolimerizados com o aparelho Ultra-Lux
(Dabiatlante, Ribeirão Preto, Brasil) com intensidade de luz aferida em
400mW/cm2, conforme leitura do radiômetro Demetron 100
(Demetron Research Corp., Danbury, EUA) durante 40 segundos na
superfície do conjunto lâmina de vidro/matriz nos dois lados.
A
resina composta Filtek Z-250 (3M ESPE St. Paul, EUA) foi inserida na
matriz com o auxílio de espátula plástica, e fotopolimerizada da
maneira anteriormente descrita.
Após
a manipulação dos cimentos, padronizou-se o tempo de 10 minutos em
umidificador para simular as condições bucais. Não foi utilizada a
proteção superficial, e os corpos-de-prova foram, então, removidos da
matriz, cortados os excessos com lâmina de bisturi, pesados em balança
analítica e mantidos em umidificador para que a imersão do grupo
acontecesse ao mesmo tempo.
Após
a confecção de cada grupo, os corpos-de-prova de cada material foram
individualmente imersos em frascos plásticos de poliestireno, de 3,4 X
2,0 cm, contendo 5,0 ml de água destilada/deionizada, que foi trocada a
cada 24 horas, em intervalos pré-determinados para aferição da liberação
de flúor: 1,2,3,5,7 e 14 dias e 1,2,7 e 14 dias para a liberação após a
recarga. Os corpos-de-prova permaneceram suspensos de forma
padronizada, sem tocar nem no fundo do frasco, nem nas paredes laterais
do mesmo.
No décimo
quinto dia, os corpos-de-prova foram removidos dos tubos plásticos,
secos em papel absorvente e submetidos à aplicação tópica de gel de
fluoreto de sódio neutro a 2% (Flutop Gel, SSWhite, Rio de Janeiro,
Brasil) durante 4 minutos. Decorrido este tempo, elas foram lavadas com
um jato de água deionizada durante 2 minutos e secas com papel
absorvente a fim de remover os excessos.
Os
corpos-de-prova foram novamente imersos individualmente em 5,0 ml de
água deionizada contida em tubos plásticos e fechados. Do mesmo modo, a
água deionizada foi trocada diariamente durante os 15 dias subsequentes e
as soluções dos dias 1, 2, 7 e 14 foram armazenadas a 4ºC em tubos
plásticos selados.
A
quantidade de flúor nas soluções foi aferida através do eletrodo
sensível de íons flúor (Orion, modelo 94-09) acoplado a um aparelho
analisador digital de pH/F– (Procyon SA-720), previamente
calibrados com uma série de soluções-padrão com as seguintes
concentrações de flúor: 0,25; 0,5; 2,5; 5,0; 25 e 50ppm de flúor, após
tamponamento com TISAB III (Total Ionic Strenght Adjustement Buffer), na proporção de 1:10.
Para
análise do flúor liberado, as soluções armazenadas foram também
tamponadas com TISAB III na proporção de 1:10, no momento da leitura. A
leitura das soluções foi feita em duplicata. Os valores obtidos em mV
foram digitados em uma planilha de cálculos (Microsoft Excel) contendo
os dados dos padrões com concentrações conhecidas de F obtendo-se a
quantidade de flúor liberada, em ppm (µgF).
RESULTADOS
Os dados da liberação de flúor antes e após a recarga foram submetidos à análise de variância (ANOVA) pelo procedimento GLM do Statistical Analyses Systems
(SAS) que mostrou haver diferenças significativas entre os grupos.
Observou-se interação entre os fatores tempo, material e momento. Para
comparação das médias foram empregados os testes de Tukey (p<0 de="de" e="e" i="i" o="o" student="student" t="t" teste="teste">p0>
<0 font="font">0>
A Tabela 1
refere-se à liberação de flúor no momento inicial e nela encontra-se a
distribuição das médias e desvios-padrão de sua liberação, como também a
análise estatística da liberação dele por cada material dentro de cada
tempo e a análise da comparação da liberação de flúor entre os materiais
(Teste de Tukey, p<0 font="font">0>
Os
materiais com maior liberação de flúor em ordem decrescente foram
Maxxion R (FGM, Joinville, Brasil) > Vidrion R (SSWhite, Rio de
Janeiro, Brasil) > Vitro Fil (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) > Vitro
Molar (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) > Vitro Fil LC (DFL, Rio de
Janeiro, Brasil) > Riva Self Cure (SDI, Victoria, Australia) >
Vitremer (3M ESPE, St. Paul, EUA) > Ketac Molar (3M ESPE, St. Paul,
EUA) > Z-250 (3M ESPE, St. Paul, EUA). O grupo representado pelo
Maxxion R (FGM, Joinville, Brasil) apresentou a maior liberação inicial
de íons flúor, sendo esta diferença significativa (p<0 24="24" font="font" horas="horas" imers="imers" nas="nas" o.="o." seguintes="seguintes">0>
Após
a aplicação de fluoreto de sódio a 2%, observou-se em todos os
materiais aumento nos níveis de liberação de flúor, sendo comprovada a
capacidade de recarga destes materiais. O padrão de liberação foi o
mesmo do período inicial, ou seja, uma linha decrescente, porém, as
concentrações mostraram uma queda mais acentuada após a recarga. Foram
observados também, menores concentrações de flúor ao longo do tempo (Tabela 2).
Na Tabela 3
pode-se observar que a partir do segundo dia, todos os materiais
liberaram maiores concentrações de flúor no período inicial do que após
recarga.
Na Figura 1 é possível visualizar o comportamento de todos os materiais durante todo o período do experimento.
DISCUSSÃO
Estudos
demonstram que a liberação de flúor tem sido estudada por diferentes
métodos e protocolos experimentais, dificultando análises comparativas
entre eles,9,11,15,20,22-23. Entretanto, de forma geral,
estudos que verificam a liberação de flúor por materiais odontológicos,
utilizam corpos-de-prova confeccionados a partir dos materiais a serem
avaliados através de matrizes pré-fabricadas. Estes são imersos em um
meio líquido, durante determinado período de tempo, e aferições são
realizadas com um eletrodo específico para determinar a quantidade de
flúor liberado21.
Neste
estudo, optou-se por imergir os corpos-de-prova em água
destilada/deionizada que tem a vantagem de não promover interferência
iônica, porém, não simula o meio ambiente bucal e não leva em
consideração a dinâmica do desenvolvimento de cárie.
Da
mesma forma, apesar dos fabricantes recomendarem a proteção superficial
dos cimentos ionoméricos, optou-se por não fazê-la, corroborando alguns
estudos2,9,11,15,20,22-23, pois o intuito da presente
pesquisa era observar a liberação bruta de flúor, como pelo o fato de
que a proteção superficial na boca desaparece nas primeiras horas,
enquanto que neste estudo, por se tratar de um meio estático, perduraria
por muito mais tempo e sua dissolução em cada corpo-de-prova ocorreria
de uma maneira não controlada, podendo interferir nas concentrações de
flúor liberadas.
Na
presente pesquisa, os cimentos de ionômero de vidro avaliados
apresentaram um padrão de liberação com elevada concentração de flúor no
período inicial, denominada burst effect ou "efeito explosão",
seguida de rápido declínio após os primeiros três dias. Depois, os
níveis permaneceram baixos e constantes ao longo do tempo, tendendo a
uma estabilização (Figura 1)7,9,11,15,18,22.
Os valores médios de liberação de flúor em função do tempo estão de
acordo com os encontrados na literatura que avaliaram a liberação de
flúor de cimentos de ionômero de vidro, apresentando padrões
qualitativos semelhantes de liberação de flúor dos materiais2,12,16,20-21,24-28.
A
elevada concentração de flúor, observada no presente estudo, no
primeiro dia após a imersão, está provavelmente associada à dissolução
das partículas, na verdade, efeito da "lavagem" superficial,
impulsionada pelo fato dos cimentos não terem recebido proteção
superficial. Igualmente, a liberação tardia é controlada pela difusão
através dos microporos e da própria massa do cimento22.
Como
verificado neste experimento, os cimentos de ionômero de vidro
convencionais e modificados por resina, embora apresentem uma curva de
liberação semelhante, apresentam diferença significativa entre eles9,20,25.
A análise dos resultados de liberação de flúor nos 14 dias iniciais
demonstra que os cimentos de ionômero de vidro modificados por resina
Vitremer (3M ESPE, St. Paul, EUA) e Vitro Fil LC (DFL, Rio de Janeiro,
Brasil) não diferiram estatisticamente entre si26 e liberaram
significativamente menores concentrações de flúor do que os cimentos
convencionais Vidrion R (SSWhite, Rio de Janeiro, Brasil), Maxxion R
(FGM, Joinville, Brasil), Vitro Fil (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) e
Vitro Molar (DFL, Rio de Janeiro, Brasil). Entretanto, não diferiram
estatisticamente dos cimentos de ionômero de vidro convencional de alta
viscosidade Riva Self Cure (SDI, Victoria, Austrália) e Ketac Molar (3M
ESPE, St. Paul, EUA) (Tabela 4).
A
maior concentração na liberação de flúor de cimentos ionoméricos
convencionais com relação aos cimentos modificados com resina e aos de
alta viscosidade, está associada ao fato desses materiais serem mais
solúveis, apresentarem uma reação de presa mais lenta e serem mais
porosos28, em decorrência, provavelmente, de partículas
maiores, mais irregulares, maior relação líquido/pó e, consequentemente,
maior fluidez.
Adicionalmente,
verificou-se que os cimentos de ionômero de vidro convencionais de alta
viscosidade Vitro Molar (DFL, Rio de Janeiro, Brasil), Riva Self Cure
(SDI, Victoria, Austrália) e Ketac Molar (3M ESPE, St. Paul, EUA),
exibem concentrações de flúor liberadas próximas dos cimentos
ionoméricos modificados por resina, o que provavelmente está relacionado
à elevada viscosidade desses materiais, que possibilita uma reação de
presa mais rápida e resulta, não só no aprisionamento de íons flúor no
interior da matriz, como também, na formação de um material mais denso e
coeso, logicamente, menos solúvel.
É
importante salientar que os níveis de flúor liberado ao longo do tempo
são mais importantes que níveis transitórios, como os observados no
"efeito estouro"6. É possível observar que ao final do décimo quarto dia
os valores médios de todos os materiais são bem próximos entre si,
diminuindo a grande diferença observada inicialmente (Figura 1).
Os
resultados demonstram que todos os materiais apresentaram elevações nas
concentrações de flúor liberadas nos primeiros dias após a recarga, que
foi diminuindo e se estabilizando ao longo dos 14 dias subsequentes,
corroborando os comportamentos observados na literatura2,11,15-16,20-22,24,28.
De
acordo com os resultados obtidos, pode-se afirmar que as diferenças nas
concentrações de flúor entre os materiais observados neste estudo estão
relacionadas com o tipo de cimento, a composição, a proporção
pó/líquido, tamanho de partículas, a solubilidade do material, a
capacidade de difusão do íon flúor através dos materiais, diferença na
energia superficial, porosidades presentes no material, além de outros
fatores desconhecidos.
Finalmente, considerando as limitações do estudo in vitro,
vale salientar que os resultados observados não devem ser comparados
diretamente às condições clínicas em decorrência da complexidade do meio
bucal. Dessa forma, os resultados do presente trabalho necessitam de
investigações clínicas que comprovem ou não o potencial preventivo dos
materiais. Adicionalmente, é importante salientar que na escolha do
material devem-se considerar todas as propriedades, associada às
necessidades clínicas, não sendo, portanto a liberação de flúor, por si
só, indicadora da seleção de um material restaurador.
CONCLUSÃO
Nas
condições experimentais, e de acordo com os critérios de avaliação
utilizados, parece-nos lícito concluir que todos os materiais estudados
desenvolveram padrão semelhante de liberação de flúor com liberação
acentuada nos primeiros dias e decréscimo lento, mantendo nível
constante até o décimo quarto dia. Os cimentos de ionômero de vidro
convencionais liberaram maiores concentrações de flúor do que os
cimentos modificados por resina, e após aplicação tópica de fluoreto de
sódio neutro a 2%, todos os materiais aumentaram significativamente a
concentração de flúor liberado nas 24 horas subsequentes, comprovando a
capacidade de recarga por estes materiais.
Colaboradores
Todos os autores tiveram participação efetiva em todas as fases de elaboração do artigo.
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Recebido em: 27/10/2008
Versão final reapresentada em: 23/5/2009
Aprovado em: 3/7/2009
Versão final reapresentada em: 23/5/2009
Aprovado em: 3/7/2009